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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

QUE VENHA 2012


2011 foi um ano de grandes mudanças na minha vida. E posso dizer que praticamente todas elas vieram para agregar coisas boas, logo foram muito bem vindas. Mudei muito. Meu estilo de vida virou uma tremenda aventura diária. Conheci em apenas um ano 22 estados do Brasil e pude cruzar com pessoas tão diferentes de mim e que me ajudaram muito a ver o mundo de uma forma diferente.

Optei por mudar meus conceitos sobre muitas questões. Mudei minha alimentação, voltei firmemente a praticar atividades físicas e me proporcionei certos luxos com meu novo salário. Aliás, falando em salário, descobri ao pé da letra que quanto mais ganhamos, mais gastamos. rs

Minha família passou o ano de forma saudável e segura financeiramente. Meu afilhado cresceu muito e tem ficado cada vez mais esperto! Garotão lindo!

Meus grandes amigos, esses continuaram a marcar presença na minha vida. Graças a Deus! Eles tiveram que se adaptar a minha nova vida. E o mais engraçado é que mesmo com tantos deslocamentos, eu os vejo mais do que nunca. Admito que devo presença a uma delas, aquela de anos e anos - mas ela sabe que a amo e que farei o possível para encontrá-la mais.

Tenho me esforçado mais para marcar presença na minha cidade. Até porque descobri em 2011 que não há lugar melhor do que nossa casa. Todas as vezes que tive oportunidade de voltar para o Rio, assim o fiz. E por isso não descobri São Paulo, uma cidade excitante, da maneira como gostaria. Isso fico devendo para 2012.

O avião virou mais uma moradia minha, além de Copacabana, Nilópolis e São Paulo. Nunca fiquei tanto tempo em um enlatado pressurizado. Nunca senti tanto meu ouvido fechar e nunca frequentei tanto os aeroportos que alías, posso também considerar como mais um lar. Minha mãe diz que eu pego avião como quem pega condução e posso dizer que ela está certa. rs

Meu trabalho me proporcionou neste ano viagens maravilhosas a lugares que nunca imaginei visitar. Abri meu coração para novas culturas brasileiras, novos sabores e novos sotaques. Digo agora que simplesmente adoro minha profissão - me descobri um apaixonado por aviões. É bom demais voar.

Escrevi bastante sobre minha rotina aqui no blog e fiquei muito feliz com cada comentário que li aqui. Comentários estes vindos de pessoas sonhadoras e objetivas como eu. Agradeço a cada uma das pessoas que me acompanharam aqui este ano. Tenham certeza que continuarei escrevendo e espero poder continuar estimulando todos. Desejo que todos possam voar e que possamos nos cruzar muito pelos aeroportos do mundo!

Eu quero muito que 2012 seja mais um ano de grandes mudanças positivas. E o que consegui de incrível em 2011 se mantenha.

Com muita sinceridade e verdade, eu desejo à minha família e aos meus amigos um ano incrivelmente maravilhoso! Desejo um ano feliz e saudável para todos!!!

sábado, 24 de dezembro de 2011

NATAL


Na madrugada de 23 para 24 de dezembro eu faria a seguinte chave de voo: Congonhas - Ribeirão Preto - Porto Seguro - Ribeirão Preto. Como não haveria mais regulamentação para nós voltarmos para São Paulo, nos colocaram de repouso em Ribeirão. E por fim voltaríamos às 21 horas para Congonhas de extras remunerados (não tripularíamos o voo). Isso queria dizer que eu chegaria por volta de 22 horas e não teria como voltar para o Rio de Janeiro - passaria a noite de Natal sozinho em SP.

A única saída era, assim que pousar em Ribeirão Preto, ligar para a escala e pedir para ser liberado antes. Ou seja, não ter que voltar no voo das 21 horas. Eu estaria de folga dia 25, o que facilitava ainda mais a minha situação.

Para a minha sorte, quase toda a tripulação estava na mesma situação. E o próprio comandante entrou em contato com a escala pedindo liberação em nome da tripulação. Isso foi ainda em Ribeirão, após fecharmos a primeira perna.

Oba! Eles liberaram! Agora é só correr para agitar a impressão do cartão de embarque de volta para Congonhas! Pousaríamos em Ribeirão, vindos de Porto Seguro, às 05:40. O voo para Congonhas era às 06:30. O horário parecia apertado mas tudo era tão perfeito e tão bem encaixado que a mesma aeronave que eu estava trazendo de Porto Seguro, faria o voo para São Paulo. Ou seja, eu nem precisaria sair do avião! Lindo demais!

E foi isso que aconteceu! Ficamos na aeronave, e esperamos a tripulação do voo para Sampa chegar. Pousaríamos em Congonhas por volta de 07:10. Eu sabia que havia um voo para o Santos Dumont às 07:30. Nada poderia dar errado. A aeronave pousou no horario previsto. Desci, peguei minha mala e já quase sem esperanças saí correndo para tentar pegar o voo para o Rio. Haveria outro voo às 08:00 - mas eu queria o das 07:30, eu queria chegar em casa o quanto antes, tinha que ser naquele.

E no amanhecer abafado da capital paulista lá estava eu, correndo com porta casaco, mala, e uniforme pesado e suado atrás do voo que me levaria para passar a noite de natal em casa. Cheguei na porta do avião esbaforido. Consegui!

Pousei numa manha espetacular no Rio de Janeiro - os pousos no Santos Dumont são sempre especiais. Agora estou na casa da minha familia, casa cheia, mesa começando a ficar farta e eu feliz da vida!

As vezes acho que nem mereço que as coisas dêem tão certo para mim. Tenho colegas de trabalho passando natal em Macapá, Porto Velho, Teresina ou qualquer outro lugar longe da família. Ou até mesmo virando a noite dentro de um avião. Isso poderia acontecer comigo também e eu teria que entender. São os ossos da nossa profissão. Por isso nesta noite de natal agradeço a Deus por ter deixado meu dia em uma sintonia perfeita.

Feliz Natal aos meus amigos do blog! Desejo uma noite especial e maravilhosa para todos!!!

Vamos voar meus caros! Vamos voar!!!!!!!


INSIGHT INFORMATIVO

Na minha empresa, a partir de certa data do ano podemos solicitar folga para Natal ou Ano Novo. A escala diz fazer o possível para atender a todas as solicitações e que dará preferência para os mais antigos, é claro. Mas no fim das contas acontece de tudo: Comissário novinho ganhando Natal e Ano Novo, comissária antiga passando natal voando, comissários voando natal e Ano Novo. Então é praticamente uma questão de sorte.

Se por um acaso o tripulante estiver voando na madrugada de 24 para 25 de dezembro ou exatamente na virada do ano, a empresa concede uma passagem de graça para o familiar deste triuplante. Somente para aqueles que já estiverem cadastrados no sistema de concessão de passagens. É uma forma de você ao menos ter alguém que te ama a bordo com você.

Alguns comissários passam Natal ou Ano Novo em cidades longe de casa, e ficam bem tristes por isso. Outros formam uma tripulação bem unida e fazem daquele pernoite uma divertida celebração. Outros mais desapegados se trancam no quarto. Outros apenas descem no restaurante do hotel para jantar. O legal é você tentar fazer daquele momento especial de alguma forma. A maioria consegue.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

AFA


A rede de fofocas existe em todas as empresas de que se tem conhecimento. Na maioria dos lugares ela é chamada de Rádio Peão. Não se sabe exatamente como ela surgiu. Mas tenho a impressão que existe desde que mundo é mundo. Ou seria desde empresa é empresa?

Enfim, origens a parte, no mundo da aviação não seria diferente. Eu trabalhei em apenas duas empresas antes de entrar para essa vida. E é claro que a rádio peão corria solta. Mas tenho a sensação de que nada se compara a mega complexa rede de fofocas do mundo da aviação. Aqui chamamos ela de AFA - Associação dos Fofoqueiros da Aviação.

Ainda no meu curso de comissário, já havia ouvido falar da AFA. Desde os primórdios da VARIG ela já estava lá firme e forte. Ninguém consegue saber ao certo quando a AFA começa, da onde ela vem ou quem começa a contar a primeira. Mas todos sabem que o poder de disseminação é devastador, para o bem ou para mal. E todos já podem imaginar que é mais para o mal, é claro. Não se tem muitas notícias de fofocas do bem.

Fico impressionado como as AFAs se espalham rapidamente. A minha surpresa vem do fato de sermos em torno de 7 mil na empresa e trabalharmos sempre com pessoas que não conhecemos muito bem. Ou seja, é muita gente e muitos desconhecidos. Como pode? rs

Me desculpem as meninas que estarão lendo este texto agora mas a grande maioria de mulheres na profissão só torna a AFA ainda mais colossal. rs E tenho certeza que todas concordarão comigo. As mulheres tem tendência a gostar de falar da vida das outras com mais frequência do que nós, homens.

Durante o voo, você sempre ouvirá comentários do tipo:

- Você sabe quem caiu na AFA? Fulano.
- Vocês estão sabendo o que ciclano fez durante o voo?
- Você não acredita no que eu ouvi de uma comissária no meu último voo.
- Sabe qual turma já está na AFA?
- Hum, também já ouvi esta história.
- Já ouvi falar desta AFA, conta mais.

E por aí vai....E as AFAs iniciam um processo de contágio em todos os voos. E de repente, não mais que de repente, como diz Vinicius de Moraes, todo mundo fica sabendo de tudo o que acontece nos voos. É chocante a rapidez.

É imprescindível ter cuidado com tudo o que você fará ou falará durante os voos. Desde o inicio deste blog eu digo que discrição é fundamental. E durante o voo este conselho só se faz confirmar. Tudo o que você faz pode se voltar contra você em uma AFA.

E quando a AFA começa a se alastrar, ela pode vir com detalhes sórdidos ou apenas pontos vagos. Algumas por exemplo vem com nome, sobrenome e voo. Outras apenas do fulano da turma tal. Mas como a AFA se espalha veloz, muitas vezes acaba se tornando um telefone sem fio. E nós sabemos que quando brincávamos de telefone sem fio, o comentário chegava na outra ponta completamente distorcido.

Não vejo o fim da AFA no futuro. Ela sempre irá nos atormentar ou mesmo nos divertir durante os voos. É uma característica entranha do nosso meio.

Para fugir de uma AFA, apenas seja discreto. Para ajudar a reter uma AFA, apenas jogue uma pedra no que você ouviu e não passe para frente - mesmo sendo quase impossível. rs Você vai querer contar para seu amigo, que também tem um amigo que vai contar para outro amigo....e tá feita mais uma corrente da rede.

domingo, 13 de novembro de 2011

PERCEPÇÕES DE VOO - RELACIONAMENTOS



A pergunta que nunca se cala: É possível namorar enquanto se voa?

Quando eu entrei na aviação pensava que encontraria um mar de solteiros. Como era possível manter um relacionamento praticamente a distancia? Era como namorar artistas de circo itinerantes.

Desde o meu primeiro voo, tenho conversado muito sobre isso com colegas de trabalho. Não tenho muita experiência neste quesito. rs Mas posso contar um pouco sobre as conclusões que eu tirei a partir das minhas percepções.

Nem quando eu trabalhei em hotelaria eu vi tanta gente casada e em relacionamento sério como na aviação. É muita gente casada, com filhos e namorando sério. É fácil então chegar a conclusão de que é possível sim. Posso desmembrar mais essa conclusão....

Das pessoas casadas pude ouvir sobre como adaptar uma relação neste mundo louco da aviação. Elas buscam todas as maneiras possíveis para ver seus cônjuges. Se utilizam de folgas e escalas dirigidas. Quando os dois são da aviação, procuram solicitar folgas casadas. Para os maridos é muito mais difícil entender a vida de uma comissária. É sempre muito pior para quem fica em casa esperando. Mas quando tem amor, esse obstáculo é derrubado facilmente. Vejo muita troca entre os casados. Um ajudando o outro a cuidar da casa. Um ajudando o outro a cozinhar. Acho que é assim que tem que ser.

E quando se tem filhos? Aconselho ir no blog da Lúcia ( http://noarr.blogspot.com/) . Ela foi comissária da VARIG, é instrutora, psicóloga e foi minha professora da escola de aviação. Ela é uma enciclopédia viva do mundo da aviação. Ela escreveu um texto incrível sobre como criar filhos neste mundo.

De quem namora, ouço muitas histórias de desentendimentos e discussões. Principalmente vindas da parte de quem fica em casa. É realmente complicado saber que a namorada estará viajando por aí e que ela ficará rodeada de pilotos tentando cortejá-las. Sim! Muitos pilotos se "engraçam" para as comissárias! É mais comum do que se pensa. Normalmente as comprometidas nem ligam e fingem que não vêem. Outras acabam cedendo - acontece. Como também é difícil para as mulheres saberem que seus namorados estão cercados de comissárias lindas e solteiras. E para os homens que namoram homens é tão complicado quanto - afinal de contas muitos comissários são gays.
Chego mais uma vez ao clichê dos relacionamentos: Quando se tem confiança é possível. Namoros firmes existem mesmo quando eles acontecem no centro do olho do furacão - vulgo aviação.

Percebi que a busca por relacionamentos maduros e estáveis é a maior busca dos tripulantes. Talvez seja para tentar, ao menos em uma parte, ter uma vida de uma pessoa normal. rs

Creio que como em qualquer relacionamento, não pode faltar respeito e confiança. Vejo muitos tripulantes em relacionamentos super estáveis. Casais comprando apartamentos, montando festas de noivado, ou então famílias lindas e fortes. É bom de ver. É bom saber que é possível.

Entretanto não posso dizer que o mundo da aviação é puro e casto. É claro que muita coisa acontece por trás dos panos, atrás das coxias e nos quartos dos hotéis espalhados por esse mundão. Mas aí eu dou uma de macaco cego, surdo e mudo. Não vejo nada e nunca sei de nada. Evito iniciar e entrar em AFAS.

Próximo post: AFA (Associação dos Fofoqueiros da Aviação)

sábado, 5 de novembro de 2011

ESCALA DIRIGIDA


A base da minha empresa fica em São Paulo. Logo todos os meus vôos se iniciam e terminam lá. E por isso também tenho um canto para ficar na terra da garoa - um canto onde deixo minhas coisas, onde cumpro sobreavisos, me preparo para vôos de madrugada e durmo quando chego muito tarde .

Como é de conhecimento da maioria, muitos comissários não são originalmente de Sampa. E todos nós de fora, ou pelo menos a maioria, fazemos de tudo para sempre voltar para a cidade natal. Buscamos algumas opções que a empresa nos fornece. Uma delas, e que já escrevi sobre, é o passe. Com eles nós voltamos para casa nas nossas folgas e curtimos um pouco as origens.

Outra solução para conseguir voltar mais para casa é a escala dirigida. Podemos assinar um termo de solicitação para que, sempre que possível, tenhamos pernoites nas nossas cidades - se a empresa voar para este destino, é claro. Neste termo de solicitação também abrimos mão de utilizar o hotel que a empresa disponibiliza - porque fica entendido que estou indo para a minha casa; logo não preciso de acomodação.

A minha escala dirigida para o Rio de Janeiro tem funcionado. Tenho conseguido bons vôos. Afinal de contas o Aeroporto do Galeão é o principal Hub da minha empresa, juntamente com o aeroporto de Brasilia. (Ou seja, do Galeao saem vôos para todo o país)

Para mim, ter escala dirigida para o Rio é poder marcar consultas dentárias e médicas com mais facilidade, é poder dormir mais vezes na minha cama, ver mais meus amigos e família, arrumar a casa que sempre fica bagunçada e também resolver pendengas da vida adulta. Como a aviação é uma eterna metamorfose que sofre interferências de muitos meios, nem sempre as coisas acontecem como eu espero. Acontece de o vôo mudar interinho e eu acabo perdendo alguns pernoites em casa - aí tem que preparar o telefone para desmarcar os compromissos. Mas isso não há como mudar - a vida do comissário é cheia de surpresas, sejam elas bem vindas ou não.

Pensando de uma forma mais lírica, ter este tipo de escala me proporciona uma sensação única: a de ter uma vida parecida com as das pessoas normais - daquelas que saem do trabalho e vão para casa. É bom poder conciliar a loucura dos deslocamentos e hotéis espalhados pelo Brasil com a normalidade de dormir em casa depois de um dia típico de trabalho. rs

sábado, 22 de outubro de 2011

COM QUEM VOU TRABALHAR? - AH, PRAZER. FILIPE, COMISSÁRIO DO VÔO.


Ser comissário é trabalhar praticamente o tempo todo com pessoas que você acabou de conhecer. É chegar no DO e literalmente fazer o "cara-crachá" para procurar quem serão seus colegas de trabalho nos próximos dias. Parece muito estranho isso, né? E vou ser sincero: É estranho mesmo! rs

No início, quando comecei a voar, tinha uma vergonha imensa de entrar no DO, sempre lotado de tripulantes. E mais vergonha ainda para procurar a tripulação! Dava um nervoso! Com o tempo, a casca vai ficando grossa e você não tem mais temor ou nervosismo. Fica até banal!

Quando você faz um vôo com uma tripulação que você não se identifica ou com aquele auxiliar que você julga mala, é ótimo saber que daqui a dois ou três dias você se despedirá e provavelmente não voará com eles tão cedo. Ufa!

Agora quando a equipe é incrível e divertida, é triste ter que admitir que daqui a dois ou três dias você terá que se despedir e provavelmente não voará com eles tão cedo. Droga!

Conforme os dias de vôo passam, mais você convive com aquelas pessoas desconhecidas. Principalmente em vôos longos, não há muito o que conversar a não ser sobre a vida ou sobre aviação. Aí de repente você percebe que está falando muitas coisas da sua vida pessoal para uma pessoa que praticamente você acabou de conhecer! É muito esquisito!

Primeiro, me sentia mal por ter falado tanto de minha vida para um ou outro colega. Mas hoje chego a conclusão que, como comissários, adquirimos sensibilidade e habilidade para identificar em tempo recorde pessoas com caráter e pessoas confiáveis. O comissário também adquiri a capacidade de fazer amizades com a velocidade de um jato.

Percebo também que é fundamental, de certa forma, criar laços com um ou outro da tripulação para que o vôo fique com uma cara mais familiar. Eu gosto dessa sensação. Nem sempre acontece, aí é um tédio! Mas normalmente tem sempre um tripulante com quem você se identifica mais. E essa será aquela pessoa que conversará com você na galley, que irá tomar sorvete com você na orla, tomará café da manhã junto ou dará uma corrida no parque com você.

Mais incrível ainda é quando você descobre que tem muitas coisas em comum com aquela pessoa e que pode trocar experiências de vida incríveis e informações preciosas. E mais que perfeito é quando você percebe o quão especial aquela pessoa é, e como foi surpreendente como vocês se tornaram amigos tão rapidamente. É duro ter que se despedir do vôo depois de conhecer alguém tão legal.

Às vezes curtos, às vezes fugazes, às vezes incríveis, às vezes eternos...os laços que a aviação me proporciona também são essenciais para meu crescimento!

domingo, 25 de setembro de 2011

THE SHOW MUST GO ON, ALWAYS!


No topo da página, onde se encontra o título do blog, eu digo que isso aqui é um diário de bordo. Mas normalmente os posts acabam sendo muito informativos. O que é muito bom também.
O que eu vou escrever hoje é o que mais se aproxima do que chamamos de diário de bordo mesmo.

Viver a vida louca que tenho não é fácil. Moro em duas cidades. Tenho obrigações nas duas, muitas coisas para resolver em ambas. E no meio disso têm os vários vôos que tenho que fazer. Nem sempre dá para resolver todas as pendengas. As vezes o que tenho que trazer para o Rio fica em São Paulo ou vice-versa. É tudo muito confuso.

E nessas poucas brechas que tenho, ainda tenho que visitar a família e ver amigos - o que é fundamental. Passo muito tempo com pessoas que acabei de conhecer - voltar pra casa é ter a chance de desabafar, sair para dançar, ou seja, receber doses de atenção de quem me conhece muito bem.

Aí pega isso tudo e encaixa na escala que tenho! Imagina! Não sobra muito tempo. Às vezes nem para dormir o quanto você queria. De vez em quando eu consigo dormir mais e melhor nos pernoites do que em casa.

Falando em pernoites, esses são algumas vezes entediantes. E isso traz a tona um dos lados negativos mais característicos da profissão: Solidão. Não há comissário que não tenha sentido ao menos uma vez solidão. Alguns não aguentam e acabam tendo síndrome do pânico. A solução para a solidão pode ser uma boa leitura, uma ligação, um chat ou um passeio com a tripulação. Se o grupo não estiver entrosado, aí o negócio todo fica complicado. rs

No meio desta vida turbulenta, se alguma coisa dá errado como por exemplo um problema pessoal que ficou por resolver no Rio ou alguma conta que eu esqueci de pagar, fica difícil se concentrar no trabalho como eu quero. Mas não há muito o que fazer. The show must go on. Eu tenho que me entregar e esquecer um pouco que tenho problemas do lado de fora do avião. Pode até ser que o trabalho ajude a desobstruir meus pensamentos negativos.

Vejo o trabalho do comissário como uma apresentação de atletas de nado sincronizado. Ao olhar dos espectadores, elas devem sempre estar sorrindo e mostrando graciosidade. Entretanto, debaixo d'água só elas sabem do esforço que estão tendo que fazer. Só elas sabem a dor nas pernas que estão sentindo ou o pulmão que está implorando por mais fôlego. O público não tem nada ver com isso. Eles querem beleza!

Com os comissários é parecido. Devemos sempre estar sorrindo e distribuindo gentileza. Não importa se tenho problemas pessoais para resolver, se meus dedos estão com calos por causa do sapato, ou se minha mão está estourada de tanto puxar trolleys e enfiar a mão em sacos de gelo. Os passageiros nada têm a ver com isso. Eles querem nos ver impecáveis e perfeitos.

Eu acho que o importante é saber reconhecer os pontos positivos e negativos da profissão. A partir deste momento, você consegue enxergar se realmente vale a pena estar naquele lugar fazendo aquilo. É muito difícil. Creio que tenho visto isso cada vez mais.

Minha vida está uma loucura, mesmo quando quero chorar tenho que estar sorrindo, nem sempre é bom pernoitar em Salvador, não é legal acordar 2 da manhã para trabalhar e nem tomar café na hora do almoço. Mas ainda sim tem tanta coisa incrível que estou aprendendo, vendo, fazendo e descobrindo...Tenho certeza que gosto do que faço e estou muito feliz com minha profissão - sem deslumbramentos e sem falta de censo crítico, claro!

Estou no lugar certo, sim. O show deve continuar, sempre. Não só na aviação, mas na vida.

domingo, 18 de setembro de 2011

A RESERVA


Segundo regulamentação, reserva é o período de tempo em que o aeronauta permanece por determinação do empregador, em local de trabalho a sua disposição - por no máximo seis horas.

Simplificando bastante o negócio todo, reserva é quando ficamos sentados no DO (Despacho Operacional) da empresa, rezando ou não para ser acionado. É literalmente sair de casa sem rumo. É você não saber se vai passar frio em Porto Alegre ou enfrentar o calorzão de Cuiabá. Fazer reserva é você se uniformizar, preparar sua mala e ir ao aeroporto sem saber o seu destino próximo. Se é que haverá um destino.

Para quem não sabe, D.O. é um mini complexo da empresa no aeroporto, onde se encontram representantes da chefia, balcão da escala, visores informativos, sala de DOV's, televisão, computadores para apresentação e consultas, achados e perdidos de tripulantes, guarda malas, salas de briefing, cadeiras e sofás, bebedouro e banheiros. É onde os tripulantes se encontram e aguardam para iniciar um voo ou cumprir uma reserva. É movimentação de tripulantes o tempo inteiro!

Ao chegar no DO para uma reserva, a primeira coisa que faço após me apresentar no computador é procurar alguém que eu conheça. Afinal de contas você tem que fazer alguma coisa para tornar a passagem do tempo mais rápida. E nada melhor do que colocar o papo em dia com um colega de trabalho. Se não encontro alguém, meu plano B é pegar meu "kit reserva". Neste kit tenho, um livro ou revista, meu notebook e meu telefone celular. Este kit é super eficaz para fazer o tempo voar.

As reservas podem ser nos horários mais loucos. Então se você tem uma reserva das 7 da manha até 13 horas, por exemplo, encontre logo um cantinho discreto para sentar porque pode ser que você caia no sono e tire uma soneca. rs E nada melhor do que a discrição.

O desejo ou não de ser acionado depende de vários motivos. Se naquele dia estou muito cansado porque fiz um vôo de seis dias na semana anterior, é fato que vou rezar para não ser acionado. Se minha escala está muito folgada certamente meu desejo será de voar. Ou se daqui a dois dias farei um vôo maravilhoso, é certo que não vou querer ser acionado para nenhum vôo que possa eliminar esse outro.

Ficar horas no DO, as vezes sem nada para fazer a não ser esperar o que vão decidir para a sua vida naquele dia, pode ser muito entediante. Você dorme, conversa, come, lê, dorme, ouve música, vê televisão, conversa mais um pouco, dorme de novo, organiza seus papeis, desorganiza para organizar de novo...o tempo as vezes simplesmente não passa.rs Por isso o próprio fato de fazer reserva já deixa o comissário louco para querer voar o mais rápido possível.

Quando ouve-se um sinal sonoro seguido da frase "Por gentileza, comissário.....comparecer ao balcão da escala", pode-se observar caras de alívio (ufa! não sou eu!), ou caras de agonia (droga, não foi dessa vez!). Ou então comissário "zuando" o outro por ter sido acionado.

Eu quase sempre sou acionado em reserva. A maioria delas foram um baque - pois por causa delas perdi vôos bons ou compromissos. Mas assim é a vida. Já estou me acostumando com isso.

Certa vez fiquei chateado por ter sido acionado em uma reserva para um vôo de 2 dias. Perdi outro voo bom por causa disso e deixei de pernoitar em casa naquela semana. Mas acabei tendo um pernoite surpreendente e incrível em São Luís. Acabei o voo feliz da vida. O certo é não reclamar ao ser acionado. Coisas incríveis podem acontecer num futuro próximo.

Como disse em um post anterior, a vida de um comissário se resume, entre outras coisas, em esperar! E a reserva é apenas uma parte disso.

domingo, 4 de setembro de 2011

INSIGHT - O VÔO DE ONTEM


Sobrevoando do norte ao nordeste, no meio do serviço de bordo, fomos obrigados a pôr em prática o que aprendemos na academia de treinamento. Mais uma vez acontece no meu vôo.

Durante o serviço de bordo uma passageira desmaia e fica estirada nos braços do comissário. Eu, que estava do outro lado do trolley, chamei a atenção do chefe de cabine através da chamada de comissário de um dos passageiros e saí do corredor rápido para liberar a passagem. Enquanto o comissário verificava o pulso da passageira, eu solicitei a presença voluntária de um médico a bordo. SORTE! Apareceram 3!
Levamos a passageira para a galley traseira e o médico tomou a frente. Enquanto eu pegava o cilindro de oxigênio e começava a abrí-lo, outra passageira também desmaiou!

Desta vez a galley dianteira serviu de espaço para o atendimento. E usamos mais um cilindro de oxigênio, como também kit médico, sacos de enjôo, e mais a força dos braços para levantá-la.

Dois comissários ficaram na frente e os outros dois na galley traseira - sempre acompanhados dos médicos. E ainda tivemos que atender a cabine de passageiros e terminar o serviço de bordo.

Acho que o ingrediente fundamental para que tudo tenha dado certo foi a paciência da tripulação. Agimos calmamente e com seriedade, o que mostrou segurança aos outros passageiros.

Essa não foi a tripulação que mais me identifiquei, pessoalmente falando, mas durante o voo o profissionalismo corre solto. Juntos, trabalhamos muito bem.

Ao final do voo, com as passageiras já sentadas e tranquilas, tivemos a sensação de dever cumprido. Naquele momento, tivemos a oportunidade de mostrar às pessoas o porquê de estarmos ali. Um voo inesquecível.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A LUTA DOS EXTRAS!


A empresa onde trabalho possui base apenas em São Paulo. Por isso nós, comissários, devemos ter um endereço em Sampa pois todas as nossas viagens se iniciam e terminam lá. Entretanto todos nós viemos originalmente de vários estados do Brasil. Logo, possuímos vínculos familiares e fraternais nas nossas cidades natal.

A empresa nos dá como benefício o chamado "Passe" que nos possibilita viajar pelo Brasil sem nenhum custo, desde que haja assento disponível no avião, é claro. Com esses passes temos a oportunidade de visitar nossos familiares e voltar às nossas raízes para matar saudade do que deixamos para trás. E isso é maravilhoso!

É incrível saber que você vai folgar exatamente no dia do aniversário da sua mãe ou chegar a tempo de pegar um vôo para sua cidade e curtir o aniversário de seu afilhado. Amo São Paulo, mas minhas raízes e meu combustível emocional (família, amigos e lugares) estão no Rio de Janeiro. Os passes são ainda mais importantes para quem é casado e possui filhos. É bom voltar para casa e receber carinho de quem gosta de você, por mais bicho solto que você seja.

Como disse, só conseguimos embarcar quando existem assentos disponíveis no avião. Somos os "tripulantes extras não remunerados".
Mas...e quando tem mais tripulantes do que assentos? Como fazemos? No caso da minha empresa a hierarquia é fortíssima. Ou seja, Comandantes, Co-pilotos e depois comissários. Quando o assento é "disputado" apenas por comissários, a regra favorece os mais antigos. Justo, não?!

Mas dá dó, por exemplo, quando vejo uma comissária que trabalha há 6 anos na empresa ficando em solo porque um co-piloto que está na empresa há 2 meses passou sua frente e ficou com o assento. Isso já não seria tão justo assim, né? Mas Hierarquia é Hierarquia.

Quando somos em grande número o negócio todo complica. Comissários do Rio de Janeiro e Porto Alegre sofrem para voltar para casa. Somos em grande número na empresa. Os cariocas tem a vantagem de possuírem a ponte aérea - de 30 em 30 minutos temos voos. Mas os gaúchos enfrentam uma via cruzes para poder embarcar.

Depois que todos os passageiros embarcaram, nós entramos no portão, damos nosso cartão de embarque e praticamente formamos uma fila perto da porta do avião. Nos horários tranquilos nem precisamos fazer isso. Mas quando os voos lotam, fica aquela fila de tripulantes rezando para ter assento. Quando o cms é de uma turma nova, ele fica já sem esperanças quando a fila está grande.

E quando você acha que vai embarcar e, aos 45 do segundo tempo, chega uma comissária da turma 60 e passa a sua frente - pode dar adeus àquele voo. rs Ou o co-piloto que chega quando você está praticamente entrando na aeronave...pode dar meia volta e esperar o próximo.

Para fugir destas filas e desta angústia de não saber se vai conseguir embarcar ou não, buscamos os horários alternativos. Aqueles horários de voos mais tranquilos. Normalmente quando se é mais novo, esta é a opção mais segura! O número de comissários aumentou muito neste último ano - mas o número de voos praticamente nao mudou. Então devemos nos precaver para não correr riscos.

Digo isso depois do "drama" que passei no dia 30 de dezembro de 2010, quando ainda era um comissario de fraldas e estava com o meu primeiro passe na mão. É claro que a data era totalmente não favorecida ao nosso lado. Todos os voos lotados e eu fiquei 9 horas no aeroporto tentando embarcar. Só consegui na última ponte. Os comissários não paravam de chegar e eu, como era da última turma, sempre ficava para trás. Uma luta que me fez pensar duas vezes antes de tentar embarcar em horários e datas de grande movimento.

Na maioria das vezes voltamos para São Paulo um dia antes de nosso voo, ainda durante nossa folga, com medo de não conseguir embarcar no dia seguinte. Alguns comissários já faltaram em voo porque o aeroporto de sua cidade fechou ou porque não conseguiu embarcar por não ter assento disponível - isso foi o que ouvi falar.

Pois é, essa nossa luta para voltar para casa e para voltar para base vai sempre acontecer. No meu caso, até a empresa criar a Base Rio, que está saindo do forno. Hummm
Mas por enquanto só para os tripulantes da Internacional. :( Mas eu ainda vou chegar de voo e dizer: Estou indo para casa.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O PASSAGEIRO PERFEITO - DICAS DE ETIQUETA A BORDO


Supomos que eu seja o passageiro ideal:

Chego na porta do avião e recebo um sorriso seguido de um "Bom Dia". Eu vou olhar para o comissário e devolver o Bom Dia. Isso é de praxe!

Vou procurar o meu assento e se tiver alguma dificuldade pedirei "por favor" para que algum comissário me auxilie.

Ouvirei quando o comissário disser no interfone para eu acomodar a minha bagagem no compartimento acima ou embaixo da poltrona a minha frente. Assim como desligarei meu telefone e ipod quando a comissária anunciar que devo desligá-los.

Na hora em que o comissário me oferecer balas, eu pegarei uma, talvez duas balas e não 10, 20, 30.

Durante o vôo de cruzeiro, se eu quiser pedir algo ao comissário que estiver passando pelo corredor, eu acenderei a chamada de comissário, chamarei pelo nome que estiver no crachá ou simplesmente soltarei um "por favor", um "por gentileza". Nunca, jamais e em hipótese alguma cutucarei o cotovelo do comissário, soltarei em alto som um "psiu", assobiarei ou chutarei o comissário.

Na hora do serviço de bordo, já teria ouvido através do sistema de som as opções de bebidas e não ficarei minutos pensando o que vou beber.

Tudo no avião está sinalizado e ilustrado. Por isso, quando for ao banheiro eu lerei em frente a mim, ou seja, debaixo do meu nariz, a frase: EMPURRE. E não ficarei procurando alguma maçaneta ou buscando formas mais complexas de abrir a porta. Jamais arrancarei a porta tentando abri-la.

Ainda no toalete, lerei ao lado da pia a palavra: LIXEIRA. Logo ali será o lugar onde colocarei meus papeis, e não no chão ou dentro do vaso. Afinal de contas, bem ao lado do vaso há outra frase: NÃO JOGUE PAPEL DENTRO DO VASO.

Se a comissária anunciar que estamos atravessando uma área de turbulência, jamais levantarei.

Se eu passo mal e utilizo o saco de enjoo, eu mesmo levarei o saco ao toalete e não chamarei a comissária para pedir para ela pegar o meu vômito.

Se eu for dormir e usar a fileira de 3 assentos, não colocarei meus pés para fora, no corredor. Até porque vai atrapalhar a passagem das pessoas.

Ao pousar, ficarei sentado até a parada total da aeronave, como o comissário anuncia. Não levantarei com pressa já querendo abrir o bin para pegar minha mala. Afinal de contas, até a porta abrir vai demorar mesmo...não tem porque eu ficar em pé.

Ao ir embora, feliz por um vôo seguro, devolverei o "obrigado" da comissária e irei para minha casa, ou trabalho, ou viagem de ferias....

Se todos fossem assim, deixaríamos de passar por várias situações. E talvez tivéssemos menos histórias para contar.

Próximo Post: A ETERNA TENSÃO DOS EXTRAS

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PILOTO AUTOMÁTICO


Fiquei um tempo sem escrever. Não por falta de vontade. Mas por falta de lacunas nos dias que se passaram. Quando tive tempo livre, me entreguei ao ócio ou à tentativa de ter uma vida social normal com meus amigos e família.

Tenho percebido que quando a escala está bem apertada, ou seja, seis dias de voo para um de folga, fico meio que ligado no piloto automático. Me entrego em uma louca rotina de voos, hotéis, ócios e aeroportos. Às vezes nem dá para saber muito bem onde estou ou para onde estou indo. No início, procurava saber exatamente para onde ia ou em qual hotel ficaria. Mas de repente só penso na cama que vou descansar e em qual horário vou ter que acordar. Parei de me perguntar com frequência para qual destino estou voando.

Não acho isso ruim. Apenas estou me concentrando em outras coisas. É bom às vezes não deixar a cabeça pesada com muitas perguntas, muitos questionamentos. O piloto automático é exatamente para isso, certo? Segundo definição o piloto automático permite uma navegação mais precisa e econômica. E às vezes, não há nada melhor do que manter a mente leve e economicamente saudável! rs

sábado, 30 de julho de 2011

DEPOIS DIZEM QUE AVIÃO É PERIGOSO.


Muita gente tem medo de avião. Talvez pelos acidentes que, mesmo que poucos, são trágicos e levam muitos de uma vez só. Mas acho que as pessoas que pensam assim devem mudar um pouco de conceito.

No país em que vivemos, sem dúvida nenhuma é mais perigoso andar de carro. As nossas estradas são péssimas e a educação e prudência de nossos motoristas simplesmente são iguais a zero. Os números não mentem - os acidentes de carro são milhares em cada mês, fazendo deste cenário todo um ambiente de horror e hostilidade.

Por volta de 01:45 da madrugada de ontem para hoje, minha tripulação saía do hotel de Manus em direção ao Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Assim como em todos os outros estados de país, as estradas de Manaus neste horário são sombrias e perigosas. Após 15 minutos de nossa partida do hotel, um carro deu uma fechada na van onde estávamos. O tal motorista do tal carro pensou que nosso motorista tivesse o fechado em um dos retornos. Este homem simplesmente jogou o carro em nossa frente e parou. Ele abriu a porta do carro e desceu.

No momento em que ele desceu do carro passou muita coisa em nossas cabeças. Ele poderia estar armado e poderia fazer algum mal para nós, simples tripulantes indo assumir um voo - indo trabalhar. Ele parecia estar embriagado e descontrolado. Chegou perto da van, deu uma porrada com a mão no vidro de nosso motorista, xingou uns palavrões e queria briga. Nosso motorista tentou explicar o que houve mas nós tripulantes pedimos para ele simplesmente não responder nada e ficar calmo. E foi isso que aconteceu. O boçal acabou voltando para o carro e foi embora, totalmente irado.

Como nossos motoristas são imprudentes e perigosos! Aliado a eles, temos estradas sombrias, mal sinalizadas e totalmente inseguras. Essa combinação é extremamente traiçoeira.

Pode ter certeza que os pilotos lá em cima são totalmente prudentes e nosso ambiente de trabalho (o céu) é bem mais seguro que nossas estradas aqui embaixo.

Eu continuo a achar que avião é o transporte mais seguro do mundo. Lá em cima é tudo tão mais tranquilo! Vocês não acham?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

INSIGHT - MOMENTOS SIMPLES QUE MARCAM SUA VIDA


Em janeiro deste ano eu iniciava a segunda etapa de meu treinamento na empresa. Esta parte consistia em 14 horas de vôo como observador. Teoricamente nada poderia fazer em vôo, o único objetivo de minha presença era observar como tudo era feito pela tripulação.

Em um destes vôos fiz o chamado "bate-volta" para Floripa com uma chefe de cabine incrível. Ela era descendente de japoneses. Logo, era traço de sua característica a paciência e a serenidade. Também havia voado muitos anos em uma das falecidas - não me lembro se era VASP ou VARIG. Era uma pessoa muito experiente e que transmitia muita paz - não só para mim, como também para o vôo que, consequentemente fluía redondo!

Em um certo momento ela me perguntou se eu já havia voado na cabine do comandante. Ao dizer não, ela me falou que eu tinha que aproveitar aquela oportunidade pois quando começasse a tripular, seria praticamente impossível. E é claro que topei! Afinal de contas era uma desejo antigo pousar na cabine do comandante.

Lá estava eu! Quieto, observador, fascinado pela vista e pelos milhões de botões também. rs Quando o dia começou a se despedir para dar espaço a noite, eu estava lá em cima, a 33 mil pés e sendo expectador daquele momento. Praticamente era possível observar a abóboda da Terra - de um lado via o sol sumindo e do outro a lua aparecendo. O céu estava numa coloração lilás e azul. Lindo demais!

Neste momento, quando eu estava totalmente impressionado com aquela cena, a chefe pediu para entrar na cabine para poder servir os lanches dos técnicos. E claro, ela educadamente me serviu também. Quando ela já saía da cabine, percebeu a minha admiração pelo cenário maravilhoso que estava ali na minha frente, colocou suavemente uma de suas mãos no meu braço e falou baixinho no meu meu ouvido, para não atrapalhar os técnicos:

"INCRÍVEL, NÃO?! SÓ QUEM OPTOU POR TRABALHAR TÃO PETINHO DE DEUS COMO NÓS, TEM O PRIVILÉGIO DE PRESENCIAR UMA CENA LINDA DESTA."

Me enchi de felicidade! Presenciei um pouso seguro e maravilho no aeroporto de Congonhas. Agradeci muito àquela chefe por, com apenas uma frase, me mostrar que eu tinha tomado a decisão correta. Eu finalmente estava no lugar certo, no momento certo. Naquele dia eu dormi muito bem, sonhei!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

PORQUE É TANTO QUE TRANSBORDA?


Pra quem não sabe porque é tanto que transborda, vou reproduzir o primeiro texto que postei no blog, no ano passado. Ele justifica o nome do blog que, acabou tomando um rumo diferente.

É TANTO QUE TRANSBORDA

Agora, no auge dos meus 24 anos não tem como saber se é bom ou ruim todo esse exagero.Há quem diga que torna a vida mais emocionante. Porém há quem diga também que pode machucar muito mais.

Tudo para mim é muito. Mesmo! Sinto como se minha vida fosse um eterno melodrama. Na hora de sofrer, sofro mais, sofrimento mais dramático, a fossa, o fim dos tempos.
Na hora das alegrias...Meu Deus! É muita felicidade! Uma explosão de boas energias!

E o ciúme? De tudo! Das coisas, dos amigos, dos amores, da família.

E a paixão? De todos! De um qualquer, de um já não tão qualquer, das figuras repetidas do álgum, de quem nem eu conheço.

E o amor? Seria capaz de morrer por ele - embora ainda nem o conheça!

É tanto de tudo, que não posso segurar por muito tempo...transborda...preciso colocar para fora! Quem estiver na frente que se segure e se proteja ou se abra, talvez! Pode vir uma enxurrada de amor como também de raiva.

E agora? Faz bem a saúde? Não seria melhor tornar as coisas mais brandas, segurar a onda? Mas aí não seria viver intensamente! Então não quero!
Quero sofrer mais, ter mais ciúmes, me apaixonar mais, amar mais que todos! Quero explodir!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

É PURA ROTINA.


Rotina. O dicionário define como: Caminho utilizado normalmente; itinerário habitual; hábito de fazer uma coisa sempre do mesmo modo.

Muitas pessoas que desejam ser tripulantes justificam sua vontade de voar como uma maneira de sair da rotina. Ou você nunca ouviu a frase clássica: "Quero ser comissário porque não gosto de rotina."?

Entretanto quem pensa assim acaba meio que se equivocando porque o nosso trabalho se resume em rotina pura.

É sempre assim, vamos juntos:

Chegamos no DO, nos apresentamos no sistema, e procuramos nossa tripulação. Com a tripulação formada, vamos a uma sala realizar o briefing. Com a aeronave liberada, vamos todos juntos ao encontro da mesma.

Chegamos na aeronave e checamos os equipamentos de emergência. Quem é da galley, faz a contagem dos lanches e assina a nota. Com o embarque, nos posicionamos, realizamos a contagem de passageiros e oferecemos as balas. Após demonstração de segurança realizamos a checagem da cabine.

Após a decolagem, iniciamos o que a própria cia aérea chama no treinamento de: Rotina de Serviço. Uma série de padrões que devemos seguir, sempre. Depois, recolhemos o serviço e ficamos a disposição dos passageiros.

Após aviso do cockpit, preparamos a cabine para pouso, arrumamos a galley e pousamos.

Se o comissário realizar 4 ou 5 trechos naquele dia, ele terá que realizar tudo isso que citei acima 4 ou 5 vezes, é claro. Multiplica pelo número de vôos que fazemos todo mês. Ufa!

Nos pernoites, saímos do aeroporto, encontramos a van e vamos para o hotel. Após o check in, vamos ao quarto, colocamos a camisa na porta para ser lavada e decidimos se vamos dormir, qual a hora da apresentação e se dá para fazer algum passeio, caso alguém tenha sugerido.

Acordamos, tomamos banho, nos arrumamos e vamos ao check out. A van nos leva ao aeroporto e tudo começa de novo. E de novo....e de novo...e de novo.

Nosso cotidiano se diferencia da rotina apenas quando fazemos algum passeio nos dias inativos. O que não acontece com tanta frequência.

Sou ainda muito novo de aviação para explicar com mais detalhes, todavia posso garantir que a rotina faz parte do nosso dia a dia. E devemos nos acostumar com isso. Quem lá no inicio disse que não gosta de rotina, acho melhor aprender a gostar. :)

Eu estou adorando essa repetição toda que, se aproxima bastante da rotina dos terráqueos. Contudo o que diferencia ela das demais é o que tem me apaixonado diariamente.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

QUANDO A TEORIA VIRA PRÁTICA


Aprendemos não só na escola de aviação como também no treinamento da cia Aérea, a lidar com situações de emergência a bordo. E é claro que rezamos para que não precisemos utilizar nenhuma dessas teorias. Mas ainda que com poucos meses de vôo tive que utilizá-las algumas vezes. Não pensei que fosse colocá-las em prática em um espaço tão curto de tempo.

Às vezes tenho a impressão de que tudo acontece comigo. rs É verdade! Sabe quando vem aquele pensamento em sua mente: Porque tudo acontece logo comigo? rs E pior é na hora da tensão, na hora em que tudo está acontecendo você ter que lembrar de tudo que você aprendeu lá atrás.

Já tive fumante no toilete. Pois é, ainda existem tolices desta magnitude. Já tive passageiro convulsionando em meus braços (pior, ele tinha o dobro do meu tamanho). Também já tive passageira levantando na hora exata da decolagem por estar passando mal. Já tive turbulência que levantou meus dois pés do chão.

Fora as pequenas e inesperadas situações de serviço como no dia em que estouraram uma garrafa de guaraná no meu rosto. E as mais comuns como as situações de vômitos nos lugares mais inusitados da aeronave.

Ainda bem que coisas como motores estourados e despressurizações nunca aconteceram e rezo para que nunca aconteçam. :)

O que eu tenho aprendido é a ter calma. E isso não tem como aprender nos treinamentos. Na hora em que "o bicho pega" é realmente difícil manter a serenidade. O negócio é respirar fundo e agir. Não é mais aula prática, é real e acontecendo ao vivo na sua frente.

E não há nada melhor do que a sensação boa que vem em você após resolver o problema. Aprendi e tenho aprendido a cada dia que a calma, a paciência e a discrição são fundamentais nessas horas.

E quer saber, é bom que aconteça logo no início. Pois lá na frente, quando acontecer novamente eu já sei como agir. O ideal seria nunca acontecer, é claro! :)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

VAI QUE...


Ser comissário, como disse em algum dos textos anteriores, é sempre deixar a mala pronta e sempre ficar preparado para viajar. Mesmo sabendo disso, resolvi deixar pré-agendado um compromisso com um grupo de amigos ao fim de um sobreaviso. (Para quem não sabe ainda no que consiste o sobreaviso: Segundo a regulamentação, é o período de tempo não excedente ao período de 12 horas, em que o aeronauta permanece em local de sua escolha, a disposição do empregador, devendo apresentar-se no aeroporto ou outro local determinado 90 minutos após receber comunicação para o inicio da nova tarefa). Ou seja, é um dia inteiro que você fica em São Paulo, sem poder fazer muita coisa, rezando ou não para o telefone não tocar.

No meu caso, como tinha planejado ir para o Rio de Janeiro no fim do sobreaviso, estava rogando para que meu telefone não tocasse. Já tinha comprado ingresso para um show, meu passe já estava impresso, estava feliz de voltar para casa e nunca tinha sido acionado num sobreaviso. Ou seja, tudo estava bem encaminhado!

Meu sobreaviso começaria ao meio dia. Às 11:59 meu telefone tocou. Eu gelei. Fui acionado para fazer uma reserva de 13:30 às 19:30. Apesar de ficar receioso com a reserva, ao mesmo tempo estava feliz porque se não fosse acionado nesta reserva, chegaria ainda mais cedo no Rio do que se estivesse de sobreaviso. De qualquer forma liguei para os amigos e os deixei em alerta para a possibilidade de eu não ir. Eu estava confiante de que não seria acionado.

Cheguei no DO às 13:15, me apresentei no sistema e peguei minhas revistas porque, afinal de contas, ficaria ali por 6 horas e tinha que me entreter com algo. Quando fui sentar no sofá, minhas pernas congelaram e meu coração bateu forte ao ouvir meu nome ecoar no alto falante. NÃO ACREDITO! O que eu mais temia aconteceu: fui acionado para um vôo de dois dias! E com um pernoite em Curitiba, onde estava um frio de rachar a pele! Não quis acreditar! Bateu uma tristeza. É claro que voar me traria mais dinheiro mas, naquele momento o que eu queria mesmo era uns abraços dos amigos.

Ter que ligar para os amigos e desmarcar tudo foi um sacrifício. "Pois é! Essa é minha vida, esse é meu mundo!", assim eu dizia para eles.

Cheguei a conclusão: NÃO MARQUE NENHUM COMPROMISSO EM DIAS DE SOBREAVISO OU RESERVA! PORQUE VAI QUE... rsrs Chegará o dia em que você será acionado e é muito ruim ter que ligar para os amigos ou familiares e desmarcar um compromisso. Traz uma sensação de decepção com você mesmo. É chato!

Ser comissário de vôo é usar sua escala de vôo como base para sua vida social. Só marque compromissos quando a escala te mostrar espaços realmente confiantes para que eles aconteçam! :)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

EXISTE VIDA FORA DO EIXO RJ-SP. SALVE A CULTURA BRASILEIRA!


Eu nasci na antiga capital do país, no cartão postal do Brasil, onde nasceu a bossa nova, onde ocorreram as principais manifestações políticas da história, a janela do país para o mundo e a segunda maior economia da nação....eu nasci no Rio de Janeiro. Eu nasci onde dizem nascer as modas. Será mesmo?

Quando comecei a voar, e isso não faz muito tempo, descobri lugares, pessoas e culturas que não pensava encontrar aqui. Como nasci numa cidade grande e sem dúvida importante para o país, cheguei a pensar que tudo com que fosse me deparar no país fora do eixo Rio-São Paulo seria secundário. Voar me trouxe uma resposta oposta. Como dizem, não é assim que a banda toca.

Me deparei com cores diferentes, sabores exóticos e com uma originalidade surpreendente. Voar por esse Brasilzão me ver ficar encantado com esse país, culturalmente falando. Os sotaques, as cores de pele, os ditados populares, os vocabulários...nossa, como nós somos diversos!

Apesar da importância econômica do eixo Rio-São Paulo, não pense que esse é o centro do país. O que nasce neste circuito nem sempre se expande para os outros estados do Brasil. E nem tudo que nasce nas ouras regiões, chega aqui. Logo não sabemos, daqui, como músicas, modas e costumes brilham por lá.

Nós, paulistas e cariocas temos que parar de achar que nos bastamos. A cultura popular, as modas e a identidade cultural do Brasil se expande por cada cantinho deste enorme país. Nada do que é produzido em nossa cultura é secundário ou menos importante. Tudo faz parte de uma grande massa, de um grande emaranhado que se chama cultura brasileira.

O camarão daquele boteco de Fortaleza é tão gostoso quanto a Lagosta do Satyricon, no Rio de Janeiro. O balanço dos Aviões do Forró é tão empolgante quanto o samba de cartola ou a batida house da The Week de São Paulo. Gosto é gosto. Não existe o muito bom ou muito ruim no que diz respeito a cultura. Se você não curte, respeite. Isso tudo aqui é Brasil! E essas diferenças todas, essas coisas todas diferentes e misturadas são fascinantes!

Tenho aprendido muito a gostar do que é Brasil - e se não curto algo, respeito e reconheço aquilo como parte minha também, da identidade do país onde moro, trabalho, sobrevoo e desvendo, cada vez mais! É muito bom! É uma delícia!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A TRIPULAÇÃO PERFEITA.


Depois de aproveitar meus 3 dias de folga curando uma amidalite (ficar de cama durante as folgas é terrível!:( rsrs), me sinto disposto a tirar a poeira do meu blog e escrever. Minha cabeça me enchendo de idéias, meus dedos coçando para escrever e eu não conseguia sair da UTI do meu quarto! rsrs

Comissários DEVEM manter a imunidade alta! Campanha "Tome Redoxon Zinco sempre e voe protegido!" deve ser feita já! rs

***** A TRIPULAÇÃO PERFEITA *****

A tripulação perfeita é aquela que já no DO você consegue identificar que vai voar com você. É um magnetismo instantâneo! Fazer o "cara-crachá" para procurar sua tripulação não é preciso quando sua intuição te mostra que aqueles farão parte de seu time campeão.

A tripulação perfeita é aquela que todos apertam sua mão com vontade e soltam um sorrisão receptivo de cumplicidade.

É aquela em que a chefe de cabine já vai falando com você como se te conhecesse há muito tempo e vai te dando espaço para fazer o seu trabalho como você acha adequado, claro, dentro dos padrões de vôo.

A tripulação perfeita é aquela também, em que o comandante na sala de briefing já vai meio que deixando de lado grandes formalidades e usa a hierarquia que lhe compete apenas para meros procedimentos. E ele nos deixa a vontade para falar e se aproxima mais da cabine, com muito respeito e amizade.

Tripulação perfeita é aquela que, ao caminhar no aeroporto junta, parece iluminar os portões de embarque. Todos olham! Parece time entrando em campo em final de Copa do Mundo. rs É bonito de ver!

O Crew perfeito é aquele que, ao entrar no avião, você pode ter certeza que todo mundo vai ajudar todo mundo e regras de funções são apenas para nortear o serviço. No fim das contas todos fazem tudo, na medida em que lhe é cabível.

Tripulação perfeita é aquela que traz tanta paz ao vôo que acaba refletindo no serviço aos passageiros que, logo, mostram satisfação com o nosso trabalho. Parece que tudo dá certo - aliás, tudo dá certo!

Tripulação perfeita é aquela que cada um tem seu tempo e espaço para trabalhar, descansar e comer. Também é aquela que gosta de conversar, trocar experiências e informações da maneira mais fraternal possível. É aquela que te faz rir muito na galley traseira com histórias de vôo e de vida. Como eu me divirto com essas histórias!

O Crew perfeito é aquele que se junta, parece que por afinidade, para sair nos pernoites para comer, passear, ir na feirinha ou apenas para tomar um sorvete de tapioca. E aquela que se junta toda no café da manhã para falar de: Aviação!

A equipe perfeita é aquela que te pergunta se você dormiu bem na noite anterior e coloca o papo em dia na vã de retorno ao aeroporto. É aquela que faz você sentir que passou apenas um dia quando na verdade já passaram 6. E você nem percebeu como o tempo passou rápido!

A tripulação perfeita é a equipe dos sonhos, o grupo mais esperado, quase uma família.

A tripulação perfeita é aquela que você se despede dando um abraço apertado e rogando para que todos, um dia, se cruzem novamente - e pode ter certeza que depois desses dias você sente quase um vazio. rs Pode crer que você vai sempre comparar suas outras tripulações com esta. Afinal de contas o que você mais deseja é uma igualzinha aquela que te fez ficar tão satisfeito e feliz com o seu trabalho!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

NEM TUDO SÃO FLORES - MAS PARE DE CHIAR!



Não é sempre que um comissário de vôo vai achar quer voar é maravilhoso. Ou vocês acham que é maravilhoso voar numa tarde ensolarada de domingo enquanto toda a sua família está num churrasco se divertindo? Ninguém vai achar maravilhoso voar na noite de natal, né? Pois é, meu pai sempre me disse que não há bônus sem ônus. E desde que eu entrei para o mercado de trabalho em 2005, sinto que isso é a mais pura verdade.

Imagina só: Depois de fazer Guarulhos-Recife e Recife-Fortaleza, você já cansado percebe que ainda falta mais uma perna, Fortaleza-Belém. Mais tarde você também se dá conta que já é uma hora da manhã e você ainda nem chegou no hotel! É claro que você, mesmo que por alguns minutos apenas, não vai achar que ser comissário é a profissão mais perfeita do mundo.

Se você marca um compromisso numa certa data e sua escala muda inteirinha para aquela semana, você certamente vai reclamar! Se você tem que receber comissaria e limpeza na galley traseira em meio a uma chuva de vento, isso também não vai ser maravilhoso!
E quando o ralo da banheira do hotel entope ou não há conexão de internet no quarto? rs Não tem como não reclamar!

Aí chegamos a uma característica CLÁSSICA do comissário de vôo: Ser "reclamão"! O comissário parece ser treinado para reclamar de tudo! rs No seu primeiro dia você vai se perguntar porque seus colegas de trabalho reclamam tanto e seguramente vai afirmar para si que nunca será daquele jeito. Entretanto, uma semana depois você vai se flagrar reclamando de alguma coisa, por menor que ela seja. É um caminho sem volta! rs Eu mesmo já voei com colegas que eu achava serem a própria Julie Andrews em A Noviça Rebelde, de tão feliz - mas que depois do terceiro dia em uma chave de 6 dias de vôo já estavam reclamando. rs

E a escala??? Não existe traslado hotel-aeroporto onde não se fale de escala. Ou melhor, onde não se reclame de escala. É o assunto mais tradicional de reclamações da história. Imagino a própria Ellen Church reclamando de sua escala! Se o comissário voa pouco ele reclama. Se voa muito, reclama também. Se folga pouco, reclama. Se folga muito, reclama.

Fora quando reclamam do hotel, do café da manhã, da vã, da comida da comissaria (às vezes essa não tem como não reclamar). Tenho a impressão que ficamos muitas vezes exigentes demais. Ou seja, creio em minha humilde opinião que muitas das nossas reclamações não são plausíveis. Reclamamos de coisas bobas. E tem comissário que acaba ficando estressado por coisas pequenas.

O que estou tentando fazer - e parece que está funcionando: Não me privo de reclamar de certas coisas, até porque se não reclamasse não seria comissário. rs Mas tento sempre parar pra pensar se aquilo faz sentido. É claro que vou reclamar se a comida da tripulação estiver feia. Até porque a gente merece algo melhor sim! Agora se eu tenho uma cama boa, um chuveiro de água quente e um café bacana porque vou reclamar da esteira que não funciona direito??? Fala sério, né?
A gente tem que parar pra pensar antes de chiar de alguma coisa! Aquilo pode não fazer muito sentido!

PS. Como eu ri escrevendo esse texto! É exatamente assim! Tá aí, outra maneira de sair desse vício de comissário reclamão é RIR! RIR MUITO! rsrsrsrs

segunda-feira, 30 de maio de 2011

DIA DO COMISSÁRIO?



Hoje comemora-se o dia do Comissário de Vôo. Acho bacana termos um dia só nosso para celebrar. Quer dizer, não só nosso mas do Pescador e do Espírito Santo também que, juntos conosco, comemoram esta data.

Eu particularmente não me ligo muito nisso. Quem disse que seria dia 31 de maio nosso dia e por quais razões? Eu sinceramente não sei. Prefiro acreditar que o "dia do comissário" acontece do dia 01 de janeiro a 31 de dezembro. Aí no caso seriam "Os Dias dos Comissários" (Melhor assim!)

Não sei quanto ao médico, publicitário, advogado ou secretária - mas sei que posso comemorar todos os dias o meu ofício. Gosto da idéia de celebrar cada vez que ponho meus pés no solo novamente depois de um vôo seguro e tranqüilo. Aprecio a idéia de comemorar cada vez que atravesso os aeroportos do país sob olhares de admiração das pessoas (Nem sempre! rs).

Também curto pensar que é meu cada dia que consigo "dobrar" um cliente difícil e fazê-lo satisfeito. Sinto como meu aquele dia que pensava que não agüentaria de tanto cansaço e dor no corpo mas que por fim deu tudo certo. Vejo como meu os dias que tenho que ultrapassar meus próprios limites e atravessar as dificuldades que, como toda outra, a minha profissão me traz. Também marco como meu cada dia que nossa regulamentação é respeitada e nossos direitos são reconhecidos.


Defendo a idéia de que nosso dia é celebrado no nosso cotidiano. Não acho que seja necessário haver datas para comemorar o que somos - a não ser que seja um feriado que nos dê algum tipo de benefício trabalhista, é claro. :)))

Comemoremos então, amigos comissários, TODOS OS DIAS!

Próximo Post: Nem tudo são flores!

terça-feira, 24 de maio de 2011

O VÔO E SUAS HISTÓRIAS


Acho que nunca privei minha imaginação de viajar longe. Às vezes gosto de criar histórias em minha cabeça e fico entretido com o que ela produz.

Nos vôos mais curtos fica difícil observar minuciosamente os passageiros. É tudo tão rápido que basta um espirro e você já fechou uma ponte aérea. Entretanto, nos vôos mais longos gosto de prestar bastante atenção nas pessoas que estão a bordo.

Gosto de imaginar possíveis histórias que justifiquem as viagens de cada uma daquelas pessoas que estão ali, sob meu olhar. Se possível, consigo extrair histórias reais. Se não, viajo em possibilidades.

Gosto de observar aqueles que viajam de avião pela primeira vez. Imagino em quantas parcelas aquela passagem foi dividida e como aquele momento é importante para aquele passageiro. Gosto de pensar na emoção e medo que eles sentem quando o motor dá força máxima para subir. Gosto de pensar na emoção que será quando essa pessoa chegar em São Paulo e encontrar familiares que não vêem há muito tempo ou se encher de expectativas para uma vida nova.

Observo as crianças que viajam desacompanhadas. Pais separados e em cidades diferentes. Como deve ser para elas? Porque será que os pais dela se separaram? Algumas me parecem a vontade e experientes na arte de viajar sozinhas. Outras me passam a sensação de medo e desconfiança. Nunca imaginei viajar sozinho quando era criança. Imagino o pai aflito no desembarque do aeroporto esperando o filho ou filha. Há quanto tempo que eles não se vêem? E se ele tiver outra família? Às vezes as crianças não me parecem muito felizes.

Vejo os executivos. Aquelas expressões de cansaço me deixa exausto. Sempre com os laptops e/ou blackberrys a postos. Imagino que tenha sido um dia de intermináveis reuniões e que eles não vêem a hora de chegar em casa, ver a família e tomar um banho quente. Tento ver pelas suas reações se o dia foi produtivo ou não. Gosto de pensar no quanto alguns estudaram para estarem ali. Mesmo que cansados, satisfeitos.

Ao transportar pacientes, gosto de imaginar a esperança de cura dentro daquela pessoa. Ela está indo a caminho de algum hospital realizar um tratamento ou de repente atrás de um doador. O mais interessante é que dos poucos que transportei, nenhum me passou sofrimento. Muito pelo contrário, eles me passaram confiança e amor.

Nos vôos de conexão internacional vejo aquelas famílias que vieram dos Estados Unidos cheias de sacolas da dutty free. Gosto de pensar nos presentes dentro daqueles sacos. Para onde estes presentes irão? Para as mãos de quem? Será que a pessoa vai gostar? Gosto de imaginar as astronômicas faturas de cartão de crédito que esses passageiros terão que pagar.

Vejo as expressões de passageiros que por algum motivo estavam há horas esperando no aeroporto. Observo o alívio de finalmente estarem indo para casa. Tento imaginar o que fez aquela pessoa esperar e há quantos dias ela não vai para casa.

É fácil também perceber casais em lua de mel. As alianças brilhando, a roupa novinha comprada especialmente para a viagem, aquela paixão de início, a felicidade de uma nova vida. Gosto de pensar no destino, no hotel que ficarão e nas fotos que eles vão tirar.

Ao transportar famosos, imagino que aquela deve ser a centésima viagem do ano. Isso explica a vontade de ficar no cantinho, descansando e sem ser percebido. É um momento de intimidade, mesmo fora de casa. Ali eles são como todos os outros. Aliás, eles são como todos os outros. Mas dentro do avião, para mim, isso se passa mais real do que nunca.

Gosto de pensar em cada membro da tripulação e como o caminho de cada um foi traçado até chegar ali. Gosto de pensar no que aqueles colegas de trabalho deixaram para trás para estarem ali. Imagino quais são as pessoas que dependem daquele tripulante e quais são seus planos para o futuro.

Gosto de me imaginar dentro da aeronave observando essas pessoas, fotografando momentos, ouvindo histórias, criando leques de possibilidades e viajando em cotidianos diversos. Tenho gostado muito do que faço. Estar no meio do caminho de todas essas pessoas me faz sentir bem...talvez até mais...faz sentir-me, mesmo que por poucas horas, essencial.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

BICHO SOLTO E DESPRENDIDO.


Sempre me senti um cidadão do mundo. Sempre pronto a explorar lugares, conhecer pessoas e vivenciar experiências. Me sinto e sou definitivamente um bicho solto. rs Essa minha característica tem me ajudado muito no dia a dia da minha profissão. O fato de ter que se deslocar para vários lugares do país, dormir em várias camas diferentes, ver pessoas sempre diferentes das que eu vi antes não me impactou. Muito pelo contrário! Só ratificou esta parte da minha personalidade.

Quando eu chego em uma cidade, tenho vontade de explorá-la. Ou até mesmo vontade de ficar hibernado no hotel. Considera-se também o fato de a tripulação estar disposta ou não a fazer algo naquela cidade - até porque nem sempre é bom andar sozinho por aí. Mas e eu? Bicho solto do jeito que sou acabo fazendo as coisas sozinho quando o grupo não quer. Onde quero chegar: Para ser comissário é vital você ter uma certa individualidade e desprendimento com o mundo. Essas duas vias caminham juntas.

Existem os momentos em que teremos que ficar sozinhos no quarto do hotel porque está chovendo , por exemplo. Terão vezes que ninguém irá na feirinha com você. Haverão vezes que você se sentirá sozinho e provavelmente sentirá falta de casa. Mas se você souber trabalhar a sua individualidade, conseguirá tirar proveito do seu dia. Você fará coisas que, se estivesse em grupo,não conseguiria realizar.

Agora, por exemplo, estou de repouso em São Luís. O tempo está ruim e a tripulação está nos seus respectivos quartos. Aproveito este tempo sozinho para ler, escrever, pagar contas, conversar com quem ficou e arrumar a mala. Antes de entrar na empresa, fiquei parado alguns meses, e este tempo me fez ficar totalmente dependente das pessoas, sentimentalmente falando. Não conseguia ficar sozinho - tinha perdido um pouco minha individualidade. Agora que voltei a ativa, todo esse meu "desgarramento" com o mundo voltou. Tiro prazer dos meus momentos sozinho e curto eu mesmo da melhor maneira possível.

Se quero dar uma volta, correr na esteira ou comer alguma coisa, sempre participo às pessoas. Mas se eles têm outros planos individuais, não deixarei de fazer o que tinha planejado. Às vezes isso acontece, e é bastante normal.

É até legal também você virar craque em hotéis. Saber apreciar uma boa cama, um bom chuveiro, aquele lençol lá de Manaus que é maravilhosamente macio....rsrs Quando o quarto é bom e a vista melhor ainda, o prazer de ficar sozinho é ainda maior! :) Quando tiro proveito dos pernoites ou dos poucos inativos que tenho, falta até hora para fazer tudo que tinha planejado. Muitas vezes, saio com a tripulação e os planos individuais caem por terra - mas isso também é maravilhoso!

De forma geral, o que mais gosto numa viagem e que sempre me fascinou é o "voltar para casa". Eu volto com um olhar diferente da minha cidade. Enxergo características maravilhosas nela, que nunca tinha percebido. Como também adquiro um olhar mais crítico das mazelas dela.
Como comissário, esse "voltar para casa" se repete freneticamente e mesmo sendo assim tão solto no mundo, fico cada vez mais apaixonado pela minha cidade. Acho deliciosa a sensação de voltar para casa. Para sentir isso tenho que viajar e minha profissão tem me proporcionado este prazer pelo menos uma vez por semana! Que incrível! Isso traz um espírito de liberdade enorme dentro de mim!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O REAL VALOR DAS PALAVRAS.


Nós, comissários, pelo o que tenho observado no cotidiano da profissão, lidamos com clientes de diferentes níveis sociais, de todos os cantos do mundo, de religiões e crenças totalmente diversas - e isso todo mundo sabe. Mas deixemos os clientes para depois. Olhemos para dentro, para a categoria. Para ser comissário é fundamental saber o valor da palavra DIVERSIDADE.

Nós trabalhamos num grupo de pessoas com as seguintes diferenças: cor, religião, orientação sexual, comportamento, cultura, objetivos, formação familiar e escolar. Todos juntos e misturados trabalhando na mesma empresa, na mesma função. Por isso que, num processo seletivo se valoriza tanto saber trabalhar em equipe. Saber conviver e trabalhar com pessoas tão diferentes de você é um grande desafio. Bem, ser desprendido de qualquer tipo de preconceito é o primeiro passo.

Quando se viaja muito, abre-se um horizonte sem igual na sua frente. Você começa a enxergar o mundo de uma forma diferente e aprende a verdadeira essência de outra importante palavra: TOLERÂNCIA. E o comissário deve tirar proveito de todas as viagens para dar um valor real a esta palavra.

Durante o vôo, é natural que cada um tenha a sua maneira de trabalhar e tenha concepções às vezes opostas às de outros comissários. Para manter a harmonia em vôo o comissário descobre a importância de outra palavra: RESPEITO.

Um vôo onde todos aceitam as diversidades dos outros, onde todos são tolerantes (na medida certa) com os atos dos outros e onde impere o respeito mútuo não tem como não ser bem sucedido. Assim sendo, o comissário descobre um grande achado: o valor da palavra EQUILÍBRIO. Um ambiente de trabalho equilibrado é saudável e só traz benefícios. Um vôo em equilíbrio reflete no atendimento ao passageiro e na forma como os dias de pernoites e/ou inativos serão: Perfeitos!

Nos vôos, o que mais acontece é um achar o outro "sem noção". Se você acha um colega de trabalho chato, deixa para lá! Se for algo que não comprometa o seu trabalho ou o bem estar do vôo, deixe que ele seja assim. Não fique falando mal dele para o outro na galley. rs Respeite-o. Se você acha que ele fala demais, deixe que entre por um ouvido e saia pelo outro - mas sem, claro, destratá-lo. Arranje algo que te ocupe e não o faça falar tanto.

Alguns se acham muito engraçados. Se você não gostou de alguma brincadeira, fale na boa. Ou então finja que não é com você. Pense no vôo, foque no serviço! Deixe ele falar! Ou melhor ainda, às vezes entrar na brincadeira é a forma mais rápida de sair dela! Pense nisso.

Se você acha que existem alguns que não gostam tanto assim de trabalhar, deixe-os assim. Enquanto você puder dar toques e dicas, tudo bem. Se a pessoa se fez de desentendida, faça o seu trabalho e ponto. Se for algo que você possa fazer a mais, adiante seu lado e faça. Mas também não vai deixar a pessoa totalmente acomodada.

Sobre assuntos diversos de galley, todo mundo deve respeitar a opinião do outro. É bom trocar informações e experiências. O importante é a troca!

Isso tudo eu tenho aprendido nos vôos que tenho feito. Lá em cima a gente aprende de forma muito mais rápida do que se trabalhássemos em terra. Nosso valores se enriquecem na velocidade de um AirBus....basta querer.

Sinto que esse tipo de assunto pode se desenvolver muito mais - mas a minha cabeça, que não para um segundo, às vezes bloqueia. É como se minha mente precisasse de mais acontecimentos, experiências e palavras para continuar a história - e assim, poder ser impressa aqui no blog. É uma viagem! :)

sábado, 7 de maio de 2011

VOAR EM POESIA


Esta poesia eu escrevi faz quase um ano. Era quando o desejo de voar estava distante da minha realidade profissional - era apenas algo que norteava a minha imaginação.

ASAS DA IMAGINAÇÃO

Eu queria poder ter asas.
Poder viajar quando quisesse.
Descobrir novos lugares.
Alcançar as distâncias mais longas.
Ir aos pontos mais inóspitos.
Descobrir o novo, sempre.

Estar no topo, nas alturas mais inacessíveis.
Saltar de colinas, montanhas e precipícios
sem me aproximar da morte.
Me sentir leve como uma folha de papel.
E nos momentos mais adversos, poder fuigr,
para o alto, para bem longe.

Vagar por entre os prédios da noite iluminada da cidade,
e observá-la distante.
Encontrar um lugar onde ninguém me encontre,
quando assim desejar.
Encontrar um lugar onde todos me admirem,
quando assim desejar.

Ter mais liberdade para escolher minhas rotas,
meu destino, meu próximo ponto de parada.
Ser inspiração, ser parte da paisagem.
Tornar-me invisível entre as árvores.
E delas obter o gosto mais doce da natureza.

Flutuar ao vento.
Sentir o ar mais puro em meu rosto.
Brincar com as nuvens.
Me aproximar do sol, da lua, das estrelas.
Chegar mais perto do meu sonho.
Chegar mais perto do céu.
Queria poder voar.

Filipe Eloy

sábado, 30 de abril de 2011

PARTE IV: AS ESPERAS


Ser comissário é saber esperar, sempre e muito. Desde que colocamos nas nossas cabeças que desejamos ser comissários temos que aprender a lidar com a espera em todas as escalas possíveis.

Quando prontos para entrar na escola de aviação, devemos esperar a abertura de uma nova turma. E este tempo nos faz imaginar como serão as aula, como serão os professores e os colegas de turma. Quando finalmente iniciamos a nossa formação, entramos em um período intenso de aulas e provas. Ainda durante o curso, descobrimos que para participar do treinamento de sobrevivência devemos emitir um documento chamado CCF (Certificado de Capacitação Física). E para isso devemos nos dirigir a um hospital especializado em medicina aeroespacial. Quando chegamos lá iniciamos mais um longo período de espera para a realização de todos os exames. São horas de espera, onde nossa paciência é testada de verdade! Quando finalizados os exames, devemos esperar mais algumas horas até o documento em questão ser emitido.

Já no fim do curso, após nos formarmos na escola de aviação, temos que esperar mais alguns dias a liberação de nossos nomes na ANAC para que possamos marcar a prova. Depois de marcar, esperamos nervosamente o dia da prova.

Depois de feita a prova, vamos a luta! Lançamos nossos currículos no mercado e seja o que Deus quiser! Aí vem mais um período de espera, pela tão esperada ligação ou pelo tão aguardado e-mail de convocação para seleção. E esse tempo nos faz sentir até dor de estômago! E aí as perguntas desesperadas norteiam nossas mentes. Porque não me chamaram ainda? O que está faltando? Será que fiz meu currículo direito? Será que enviei para o endereço errado? Bem que eu achei que aquela foto não era tão boa assim! Após tantos pensamentos bobos e sem sentido a convocação chega!!!

Agora é hora de esperar o aguardado dia da seleção. É aquela correria para preparar o terno, o sapato, estudar inglês, falar em frente ao espelho, rezar, fazer promessas e coisas mais. Já passada a seleção (todo aquele processo que expliquei nos posts anteriores), entramos num desesperador período de mais espera! Aí sim, essa é de acabar com qualquer um! Você não sabe se foi bom o suficiente, não sabe se eles gostaram de você e tampouco sabe o dia exato que a resposta vai chegar. Às vezes dá até tempo para preparar o plano B caso receba uma reprovação. Se passou do prazo que eles determinaram, é praticamente motivo para suicídio. Quando já estamos de cabelo em pé e sem a menor lucidez, recebemos a aprovação! Tempo para comemorar, chorar, abraçar família, se imaginar em vôo, sonhar com as aeronaves até que.....Temos que esperar o início do treinamento.

A espera pelo treinamento é gostosa. Porque você já conhece alguns colegas de turma nas redes sociais, já imagina como será incrível o treinamento, como será a nova vida em São Paulo e, pricipalmente, prepara sua despedida provisória dos amigos e família. Mesmo com a correria para acertar documentação, novo lugar para morar e tantas outras coisas, esta espera é muito prazerosa.

Depois de três meses de treinamento (no caso de minha empresa), devemos esperar pelo CHT, ou seja, sua licença de vôo. Mais um mês ou mais de espera. Neste tempo você tem tempo para voltar para sua cidade natal, rever os amigos, a família e fazer coisas que você fazia na antiga vida de terráqueo. Mas depois de um mês você já fica sem paciência e louco para voar logo!

Sua CHT chegou! Mais um motivo para comemoração! Mas aí você percebe que tem que esperar a sua primeira escala de vôo sair! Mais ansiedade! rs Depois de mais
alguns dias você finalmente vai voar, depois de todo esse tempo de espera!!! Ufa, sobrevivemos! Não vamos ter que esperar por mais nada! LENDA TOTAL! Você vai continuar esperando, esperando e esperando mais um pouco.

Só que agora é diferente. Esperamos o horário de apresentação, a formação a tripulação, a liberação de aeronave, hora em solo, o embarque e desembarque de passageiros. Ah, também esperamos a esperada ou não chamada em uma reserva ou sobreaviso.

Isso sem contar o tempo que esperamos no consulado para tirar vistos, e na Polícia Federal para renovar o passaporte que aliás, é onde estou agora escrevendo este texto. rs Esqueci de dizer que também voltamos a esperar no hospital de medicina aeroespacial para a renovação do CCF.

Ou seja, para ser comissário há de ter paciência, há de saber esperar, há de encontrar um jeito leve e produtivo de anguentar tantas angustiadas esperas, como
eu agora, que escrevo para passar o tempo.


PS. Falei no post anterior que escreveria sobre o que fazer quando se tem um mala na tripulação. Mas como me inspirei para falar sobre o assunto acima, deixo este assunto para a próxima postagem.

Beijos e abraços a todos!

Filipe

quarta-feira, 27 de abril de 2011

PARTE III: O MEDO DE ENGORDAR


Ser comissário é viver nos extremos do corpo. Trabalhamos em um ambiente pressurizado logo, nosso corpo todo dilata, nossas narinas secam, nossa pele racha e nossos olhos ressecam.Mas não tem nada mais apavorante do que ENGORDAR. rs

Ainda nos vôos de observação, na fase de treinamento, perguntei muito aos comissários sobre o dia a dia, sobre as mazelas pessoais que a profissão causa. Até porque como não existe profissão perfeita, é bom saber logo de início tudo o que te espera no meio do caminho, assim você encara tudo de forma mais relaxada. E uma das minhas dúvidas era sobre a lenda: Todo comissário engorda! Fui buscar relatos e saber os motivos que causavam esta explosão de calorias.

Ouvi coisas do tipo: "Engordei dez quilos em um ano", "Engordei 15 quilos", "Fiquei enorme", "Estou fazendo dieta senão não dá". E por aí vai. Fiquei assustado com o meu possível futuro. rs

Durante o trabalho em vôo não sobra muito tempo para comer. Às vezes a comida que nos é oferecida não é lá muito atraente, por isso ficamos sem comer a tal refeição. Na busca por algo para comer encontramos o tal sanduíche, com muito queijo e um pão totalmente engordativo. Como fazemos várias pernas por dia, faça as contas! Até mesmo quando tentamos evitar o sanduíche, ficamos muito tempo sem comer e isso é péssimo para o organismo, que fica acostumado a acumular gordura.

Fora do vôo, pelo menos a maioria dos comissários busca lugares mais em conta para comer com o objetivo de fazer a diária render, ou simplesmente para economizar. E lugares mais baratos oferecem comidas algumas vezes muito gordurosas e calóricas. Continue fazendo as contas!

Na nossa correria do dia a dia temos que comer muito rápido, e isso também nos faz engordar. Vai somando!

Por causa dos horários loucos almoçamos na hora da janta, jantamos na hora do almoço, tomamos café de madrugada, lanchamos de manhã - e isso dá um nó no organismo.

Ao final desta calórica equação você chega ao inevitável resultado: VOCÊ ENGORDOU!

O que fazer para evitar que isso aconteça? Vou relatar o que estou tentando fazer.

Primeiro estou bebendo muita água! Muita mesmo! Lembre de tomar água! Este pequeno hábito vai ser bom para sua pele e organismo.

Segundo, evito comer os tais sanduíches. Uma vez ou outra tudo bem. Mas não torne esta delícia um vício. Leve de casa uma barra de cereal ou fruta. Na hora do almoço ou janta, faça um esforço e coma a refeição que embarca para você. Pelo menos a salada. Comer um pouquinho da carne também vai te fazer bem. Não faça tanta cara feia para a comida. rsrsrs

Terceiro, evite comer frituras nos lugares que você fica de inativo ou de repouso. Essa dica vale para qualquer pessoa, nós ou mesmo para os terráqueos. Isso não é novidade - já deu um milhão de vezes no Globo Repórter.

Quarto, a maioria dos hotéis que ficamos possuem academia. Vá fazer algum exercício. Qualquer meia hora que seja ajuda. O importante é fazer umas quatro vezes por semana. Eu, por exemplo, tenho sempre dado umas corridas nas orlas das capitais do nordeste. É ótimo porque você sai do ambiente fechado da academia, sente a brisa fresca do mar, vê as modas na rua e ainda se exercita. É revigorante e relaxante. Eu aprovo. rs

Esses pequenos hábitos vão te salvar do "monstro do engorda" que assusta a maioria dos comissários!!!

Próximo post: O que fazer quando se tem na sua tripulação um mala?

Abraços e beijos aos amigos!

Filipe

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