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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

SIMULTANEIDADE - ESTAMOS EM TODOS OS LUGARES



Amanhã eu acordo às 07:20 da manhã. Estou pernoitando em casa, no Rio de Janeiro. Eu devo me apresentar às 08:50 no hotel onde minha tripulação está que, ainda bem, fica perto da minha casa. Enquanto estou me arrumando, meus colegas de tripulação estão acordando em suas camas de hotel e indo tomar banho. Ao mesmo tempo, lá em Brasília, uma tripulação chega no hotel St Paul exausta depois de ter voado toda a madrugada em um bate-volta Rio Branco. Neste mesmo horário, uma outra tripulação já esta dentro de uma de nossas aeronaves em Porto Alegre rumo a Congonhas, São Paulo.

Decolaremos do aeroporto internacional do Galeão às 10:40 da manhã rumo a Vitória. Neste momento temos um ônibus cheio de tripulantes em Congonhas partindo para o aeroporto de Guarulhos. Alguns para fazer reserva, outros para se apresentar para voo. Outro ônibus sai de Guarulhos para Congonhas, com tripulantes que voltam para casa depois de terem voado a madrugada toda ou mesmo porque não foram acionados em suas reservas. Nesta mesma hora outro grupo de comissários se apresenta no hotel Costa do Mar, em Fortaleza, rumo a Recife. Em Recife, a tripulação que aguarda a aeronave vinda de Fortaleza espera no portão de embarque para iniciar um voo para São Paulo.

Eu e minha tripulação pousaremos em Vitória às 11:35 da manhã -  momento em que uma outra tripulação sai de Belo Horizonte rumo a Brasília. Esta aeronave está atrasada, o que implicará na escala do outro grupo que a aguarda no aeroporto de Brasilia. Eles irão regulamentar e ao invés de dormirem em Salvador, irão ficar em São Paulo mesmo. No mesmo horário outros comissários dormem como pedras no hotel de Macapá, depois de terem chegado de Belém às 04:00 da manhã.

Partimos de Vitória às 12:15 rumo ao aeroporto de Guarulhos - quando na mesma hora uma tripulação decola rumo a Buenos Aires, já planejando o que irão comprar no Duty Free. Lá em Buenos Aires, a tripulação que fará o voo de volta para o Brasil está dentro da van em direção ao Aeroporto de Ezeiza.

Pousaremos em Guarulhos às 13:45, exatamente no mesmo momento que outras centenas de aeronaves estarão pousando nos aeroportos das 26 capitais. E no mesmo momento que dezenas de comissários estarão acordando felizes porque ainda estão de férias. Uns estarão nos Estados Unidos, outros na Europa e outros em casa mesmo.

Eu pegarei o ônibus para Congonhas às 14:30. Lá vou encontrar por um acaso um amigo de turma e irei conversar com ele durante todo o trajeto. Ao mesmo tempo que outros comissários de mesma turma se cruzarão em trocas de aeronaves, em pernoites em hotéis ou na rua mesmo.

Quando eu chegar em Congonhas irei correndo pegar a ponte aérea rumo ao Rio de Janeiro. Estou de folga depois de amanhã. Assim que eu descer do ônibus, uma tripulação, já com três comissários, estará dando o embarque do voo JJ3940 lá no portão 5, o mesmo portão para qual eu irei correndo de encontro a eles. E ao mesmo tempo que outra tripulação marca de sair para jantar ainda antes do check in no hotel Slavieiro, em Curitiba. Outra tripulação lamenta que o aeroporto de Londrina fechou e perderão o voo. Outros ficam felizes por terem algumas pontes aéreas canceladas porque ficarão de reserva em São Paulo, ou seja, muito mais lucrativo.

Assim que eu pousar no Aeroporto Santos Dumont, outros colegas meus estarão pousando debaixo de uma chuva torrencial em Manaus e outros estarão morrendo de calor na van com destino ao hotel de Teresina.

Vou chegar em casa umas 18:00, quando outros comissários saem de suas casas rumo ao aeroporto para se apresentarem. Uns voarão para Caracas, outros para Norte, Nordeste, Centro-Oeste ou Sul. Enquanto isso outros estão a 37 mil pés sobrevoando a floresta amazônica ou os lençóis maranhenses.

Depois de traçar minha rotina de fim de tarde em casa e ir para a night, vou dormir feliz da vida na minha cama - enquanto outras centenas de comissários dormem em centenas de quartos de hotéis espalhados por esse Brasil.

Tudo isso acontece todos os dias, todas as manhãs, tardes, noites e madrugadas. Tudo simultaneamente. Estamos em todos os horários e em todos os lugares. Somos onipresentes.

Fonte Foto: http://cly-blog.blogspot.com.br/2011/03/cotidianas-73-hoje-eu-vou-comer-sua.html

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

IRRITANDO O COMISSÁRIO DE VOO.

Boa parte das pessoas que estão trabalhando como comissários gostam do que fazem. Bem, pelo menos eu acho que sim. rs Mas como em todas as profissões existem situações que nos deixam um pouco irritados e que, para ser sincero, acontecem milhares de vezes ao dia, em todos os aviões que sobrevoam este país.

Hoje vou ser um pouco mais escrachado e menos poético. Vou dizer o que irrita o comissário! Claro, tudo baseado no que acontece comigo. Mas acredito que todos os colegas concordarão! 
Não pensem que puxo os cabelos quando essas situações acontecem. Por mais irritado que você fique, meu amigo, não adianta - você tem que devolver com um sorriso e fingir que está tudo bem! rs

- Passageiros brasileiros têm preguiça de buscar informação. Isso faz com que eles nunca saibam como abrir a porta do toalete do avião, mesmo tendo um aviso GIGANTE dizendo: EMPURRE! Eu falo pelo menos umas 50 vezes por dia a frase: É SÓ EMPURRAR NO MEIO. Pior é quando eles conseguem desmontar a porta do banheiro - ou seja, conseguem o mais difícil! Pior ainda é quando a porta do toalete é de maçaneta, igual a todas as portas do mundo, e eles não conseguem abrir! IRRITA!!!!

- Na hora de chamar o comissário é um festival de atrocidades. Uma das coisas que mais irrita o comissário é o cutuque! É cutuque no braço, no ombro, no cotovelo, e até na bunda, minha gente! rs 
Além do famoso cutuque, existem também os "psiu's". Como esse psiu irrita! rs
Mas nada é mais horrendo do que chamar o comissário com um assobio, como se estivesse num botequim. Acontece muitas vezes, principalmente nos voos para o Nordeste. É cultural! O que podemos fazer? rs Bem, eu digo apenas que para me chamar, é só apertar o botão. Eu meio que, delicadamente, ensino a eles. E com certeza eles aprendem!  

- Irrita tanto quando você vai abrir a garrafa de coca-cola e ela explode, molhando não só você mas vários passageiros.

- Seguindo o raciocínio da irritação, partimos para o famoso copo de água. O comissário vai até a poltrona 16A e o passageiro da mesma solicita uma água. Todos que estão ao redor ouvem. Logo, o comissário vai a galley e busca o copo de água e leva até o passageiro. Assim que você entrega o copo, o passageiro da 16B pede a mesma coisa. Você volta na galley e pega mais um copo de água. Quando você volta, o passageiro da 16D pede também água. ORA!!! PORQUE NÃO PEDIRAM DE UMA VEZ? Os comissários normalmente voltam umas 3 ou 4 vezes na galley por causa do famoso copo de água!
E não precisamos nos prender apenas na água não. Basta um passageiro ver o outro pedindo qualquer coisa, que ele também vai pedir. É praticamente regra! Aos que querem voar, estejam preparados! Tenham paciência. :)

- Outra coisa que irrita o comissário é quando o passageiro pede algo fazendo cara de sofrimento! "Me vê um copinho de água pra eu tomar meu remédio?". Vocês não tem idéia da cara de sofrido que esse passageiro faz ao pedir essa água! Porque fazer essa cara? Não preciso sentir pena do passageiro para servir uma água. Faz parte do meu trabalho servir! rs

- E quando eles insistem em deixar os pés e cabeças no meio do caminho do trolley? Dá uma agonia!  

- Acontece muito na ponte aérea: Passageiro nunca desliga o celular! Nos irrita profundamente quando pedimos gentilmente para o passageiro desligar o celular e eles, ou fingem que não ouvem, ou fingem que desligam. Eles acham que somos idiotas e não sabemos que não basta apertar o botão para desligar o iphone, tem que segurar! rs 

- Fazer um voo de 45 minutos, lotado e ainda por cima café da manha, já é bastante corrido. Haja agilidade e sagacidade. E quando você está na passarela em pleno vapor, servindo os passageiros, aparece uma alma não sei da onde e pede um "café com leite com adoçante"....ai tenho que ir lá atrás preparar! Perde-se tempo demais nisso - considerando o tanto que temos que fazer em 45 minutos. Irrita tanto! Faz parte do meu job description, mas que irrita, ah se irrita!!!

- Haja forças para aguentar uma troca de escala de última hora! Você tem aquele voo maravilhoso, aquele que você esperou o mês inteiro para fazer. Aí simplesmente um dia antes a escala muda e você vai parar ali do lado, com um voo curto e sem diárias. Irritante!

- O mais difícil de trabalhar com serviço é você ter que lidar com pessoas que tiveram uma educação diferente da que a sua mãe te deu. Estou na porta do avião com um largo sorriso, solto um empolgante "Bom Dia" e o passageiro tem coragem de passar direto sem olhar na minha cara! Os comissários detestam esse tipo de deselegância! Você oferece o serviço ao passageiro e ele praticamente finge que não te viu e que não te ouviu. Como você se sentiria? É brabo, né? Mas também faz parte - não só lidar com a diversidade cultural, mas também com a diversidade educacional! Solução: Continue sorrindo! Pode ter certeza que o próximo passageiro vai te responder "Bom Dia"! Você será correspondido, uma hora ou outra!

- Talvez o que mais irrita os comissários, desde os primórdios da aviação, é o fato de os passageiros acharem que somos garçons e garçonetes ao invés de agentes de segurança. Acham que somos "bandejeiros" mesmo! Infelizmente eles só mudam de mentalidade quando presenciam uma situação de emergência a bordo, quando temos que agir e por em prática nosso treinamento. 
Isso é algo que temos que ter paciência - um dia isso vai mudar. Assim espero!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

VOANDO PELA BRASILIDADE


Depois que comecei a voar nunca me senti tão brasileiro. Conforme vou conhecendo as cidades e explorando as culturas e os sabores de cada estado, vou agregando mais brasilidade em mim. E de repente me vejo usando sotaques e trejeitos de outros lugares sem perceber.

Às vezes me pego falando sibilado ao invés de chiado como todo carioca. Ou então solto um "guri" ou um "meu" sem sentir. rs Começo a gostar de músicas que nunca imaginei que fosse curtir. Fico encantado com o café expresso de Porto Alegre, com o camarão de Fortaleza e o Açaí de Belém.

Descobri que no Pará o cachorro quente é com carne moída, o hot dog que tem salsicha. Descobri também que no Rio Grande do Sul pão francês é cacetinho, no Paraná salsicha é vina e no Nordeste bala é bombom. Me sinto mergulhando cada vez mais numa torre de babel.

Mineiro fala tão rápido e junta tanto as palavras que às vezes fica difícil entender. Na Bahia tenho que ter paciência porque muitas vezes a comida que peço no quarto demoooora. Falando em Salvador, nunca mais pedi acarajé quente pois soltei fumaça por todos os buracos (quente é com muita pimenta!!!).

Em Manaus e Belém temos que nos programar para sair - antes ou depois da chuva de todo dia.

Conheci o pessoal cool e bonito de Floripa que, se tiver nascido mesmo na Ilha da Magia, se chama Manézinho da Ilha.

Nunca pensei também que deveria levar casaco para Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, porque lá pode fazer ZERO graus.

E quando o tempo estiver muito seco em Brasilia, tenho que tomar cuidado para meu nariz não sangrar.

A arte indígena do Amazonas e as redes artesanais de Pernambuco me fazem viajar e chegar a conclusão que não existe somente Rio - Sao Paulo no cenário artístico brasileiro.

Cada lugar que conheço me faz aprender a viver mais e melhor neste país, e toda essa diferença me fascina e me torna cada vez mais nacional, brasileiro com B maiúsculo.


quinta-feira, 28 de junho de 2012

TIRADAS DE VOO...RAPIDINHAS DE VOO - I




"UMA COISA É VERDADE: FAMÍLIA E TRIPULAÇÃO A GENTE NÃO ESCOLHE..."


 PS. Ri muito quando ouvi essa. Será a primeira de muitas tiradas que ouço dos comissários.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

FIAPO

Quando comecei a trabalhar na aviação descobri que não consigo fazer tudo o que eu quero. Eu preciso dar prioridades a certas coisas e esquecer outras, mesmo que por um tempo determinado. E isso aconteceu com o blog. Tive que colocar ele na gaveta.

No meio do turbilhão que se tornou minha rotina apareceu alguém que me trouxe um frescor no coração. Alguém que, de certa forma, estaria esperando por mim quando eu voltasse para casa. Essa sensação é boa demais. E de repente descobri que quando o coração está pulsando forte por alguém a impressão é que tudo está dando certo. E até trabalhar se torna mais gostoso.

Esse sentimento inevitavelmente se tornou uma das minhas prioridades e cultivá-lo se transformou no meu maior investimento.

Mas aí de repente, não mais que de repente, tudo parece começar a ruir. E um desalinho sentimental desagradável começa a tomar conta de toda a situação. É incrível como meu corpo começa a apresentar sintomas incontroláveis de sofrimento. Mais uma vez o coração parece se partir e sinceramente não sei o que fazer. Por mais que tente racionalizar a situação e continuar a vida, o corpo responde ao contrário. Fico mole, agoniado, com vontade de ficar em casa e sem nenhuma gana de trabalhar.

Mas não tem jeito, a vida tem que continuar. Só o tempo para curar. E sinceramente espero que ele passe muito rápido porque, tenho que admitir, dói demais!

The show must go on! That's it.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

PERSONAGENS DO VOO - PARTE II: CHEFE DE CABINE


              Na nossa escala impressa aparece o nome de todos os tripulantes que voarão conosco até o final do mês, e em quais voos os teremos como equipe de trabalho.

 Eu, pelo menos, bato o olho direto em quem será o meu ou a minha chefe de cabine. E por motivos claros. O chefe certamente será a primeira pessoa que vou procurar no Despacho Operacional quando a tripulação começar a se formar. Segundo, ele me dirá em qual posição eu ficarei durante o voo, mesmo eu já sabendo qual será (eu verifico a lista antes). Terceiro, o primeiro contato é muito importante para você já ter uma idéia de como fluirá o voo nos próximos dias.Porque digo isso?! Muito simples, o trabalho e humor da chefe de cabine irá meio que ditar como será a energia daquela tripulação. Várias interferências podem ocorrer.

 Não tenho nenhum gabarito para detalhar o trabalho de um chefe de cabine. Sei que implica em muitas responsabilidades e que seu papel é fundamental para o bom andamento do voo e até mesmo para a sua pontualidade. Gerenciar situações de voo é o lema do chefe.

 Vou dizer com base no que observei nesse ano de voo, alguns tipos de chefes de cabine que podem aparecer na aviação.

 Se a chefe de cabine se mostrar 100% padrão e fazer questão de ser perfeccionista, pode ter certeza que a tensão irá imperar no voo. Uma chefe que gosta de se mostrar correta está implicitamente mandando que todos sejam daquela forma. Eu pelo menos entendo assim. E todos os auxiliares ficam com medo de errar e serem reportados.

 Algumas chefes já chegam para voar de mal humor, por motivos que nunca quis saber quais são. E isso reflete também na tripulação pois muitas vezes sua raiva é descontada de forma autoritária nos auxiliares. Fica um clima ruim. Seu mal humor acaba contaminando a todos. :/

 Quando a relação cockpit-cabine não funciona muito bem, cabe a chefe de cabine não deixar esse clima atingir a equipe dela. Muitas vezes isso não acontece. Algumas chefes são invejosas com relação a outras meninas. Aí neste caso eu fico imune! rs Mas que inveja é feio, isso é! Como é complicado trabalhar num ambiente com muitas mulheres e muita guerra de vaidades! :)

 Algumas chefes não tomam aquela posição como sendo de liderança - apenas fazem o básico. E às vezes isso atrapalha. Uma equipe sem liderança fica desguarnecida em algumas situações de voo.

 Muitos chefes são tão bem humorados que parece que tudo dá certo. Bom humor gera voos tranquilos. :) É maravilhoso poder voar com um chefe de cabine humilde, profissional e líder! Um chefe de cabine ideal joga a equipe para cima, flexibiliza o trabalho e, principalmente, não vira escravo de padrões pré estabelecidos que, nem sempre ajudam no dia a dia. Um voo leve passa muito rápido!

  PS. Uma vez uma chefe veio pedir desculpas por ter feito algo fora do padrão. Não era nada de mais - nem lembro o que era. Mas eu disse para ela: Você sabia que a ponte Rio Niterói balança, que ela é flexível? Ela respondeu que não. Eu expliquei porque: Porque se ela fosse rígida ela quebraria. Quis dizer que não adianta se prender totalmente aos padrões. As situações nos levam a sermos flexíveis e termos jogo de cintura. Os padrões servem para organizar e dar um Norte. Quem é rígido demais quebra rápido. Já vi muita chefe se achando padrão e fazendo um monte de besteira! Fato!


Não posso jogar também tudo em cima da Chefe! rs Tem comissários auxiliares que são tão ruins ou são tão medíocres que não tem como a chefe de cabine aguentar. Aí entendo que o "climão" acaba sendo inevitável. Neste caso é só acalmar os nervos e rezar para acabar logo o voo.

 A maioria dos chefes são generosos e incrivelmente legais! É claro que ninguém é perfeito! Até mesmo os líderes erram. Então não importa qual tipo de chefe cruzar seu caminho. O importante é manter o foco no seu trabalho, ser discreto e respeitar a hierarquia. Faça o seu e observe qual tipo de líder encabeça sua tripulação. Assim sendo, você saberá como se portar.

sábado, 7 de abril de 2012

PERSONAGENS DO VOO - PARTE I: O COMANDANTE


Ele é a autoridade máxima no voo. Durante uma chave de voo é Deus no céu e ele na Terra. E se tratando da empresa onde trabalho, onde a hierarquia é muito forte, o comandante tem uma imagem de autoridade máxima de voo ainda mais expressiva.

Quando entrei na empresa descobri que ele deve ser o primeiro a entrar no avião, o primeiro a entrar na van que faz nosso transporte, o primeiro a pegar a chave do quarto, e tem sempre o melhor quarto de hotel dentre os tripulantes. E ainda por cima, e mais importante, ele tem o maior salário de todos. rs

O que esperar de um comandante então? Eu particularmente espero liderança! E a liderança agrega humildade, generosidade e de forma suave, autoridade.

Durante esse pouco tempo de empresa que tenho tive algumas percepções sobre este personagem tão marcante da aviação.

Ele é muito respeitado dentre todas as camadas que fazem a aviação funcionar: Agentes de aeroporto, despachantes, mecânicos, comissários, co-pilotos, recepcionistas de hotéis, passageiros e por aí vai. Dificilmente há alguém que não respeite um comandante.

Eu percebi que esta função pode ser ramificada em algumas categorias. E é claro, tudo baseado nas minhas humildes percepções. que fique bem nítido isso.

Temos aquele comandante perfeito. Aquele que trata a todos bem, que não faz questão de entrar em avião ou van primeiro e que tem a tripulação dele como uma equipe onde todos dependem de todos para funcionar. Esse capitain defende a tripulação dele quando a escala ou outras interferências causam transtornos a nossa rotina. É aquele que não aceita fazer voos que sejam menos lucrativos do que nos tiraram. Ou seja, aquele que faz jus a sua autoridade e segue corretamente a regulamentação. E ainda por cima interage com os comissários e se juntam nos pernoites sem nenhum tipo de ego inflado.

Temos também o comandante egoísta. É o que não está nem aí para a equipe. Só pensa no seu próprio bem estar. É aquele que não faz nenhum esforço para ajudar, faz apenas por obrigação. É aquele que fica em silêncio sempre e não tem a menor vontade de tornar aquele grupo um time. Normalmente os comissários se sentem desguarnecidos com este tipo de comando. São os que, uma vez um instrutor chamou, de quatro faixas.

Há também o comandante autoritário. Imagino que seja o pior. É aquele que faz questão de impor sua autoridade. É o que gosta de ser chamado de Sr. Comandante e que acha que nós, comissários, somos menores, inferiores e de uma classe pequena. Ele fala com a tripulação apenas o indispensável e tem o ego mais inflado que você possa imaginar. Alguns deste tipo não permitem que a chefe de cabine entre no cockpit a não ser que seja chamada. Rezamos para o voo acabar logo.

Ainda tem os que não se incluem totalmente em nenhum destes tipo acima. O que só trata bem as comissárias e trata com ignorância e indiferença os comissários. Ou então o bipolar, o preconceituoso...e por aí vai.

Quis apenas separar em três tipos, considerando aspectos profissionais.

O comandante é uma figura fundamental e necessária como líder. Voar com um comandante de verdade faz toda a diferença no voo. A tripulação toda se sente protegida e o profissionalismo reina absoluto.

Salve os comandantes de verdade! Com C maiúsculo!

04 DE ABRIL - FOLGA ANIVERSÁRIO


Um comissário tem apenas um dia no ano que ele tem certeza que irá folgar. Os outros 364 dias ficarão a cargo da escala de voo. Ou seja 99,9999% do seu ano é decidido por pessoas que não te conhecem.

E esse dia é o do seu aniversário. Na empresa onde trabalho folgar no dia do nosso aniversário mais um dia antes ou depois é obrigatório. Mas não pensem que essa folga é adicional na escala. Ela fará parte das oito folgas que, no mínimo, devemos ter por mês. E normalmente são oito folgas que temos por mês - tripulantes de tripulação simples.

No dia 4 de abril fiz aniversário. Logo, folguei. Foi um dia para cumprir compromissos, resolver problemas e por fim, comemorar com a família. E esta última é a mais legal. Porque afinal de contas esse também é o único dia do ano que sua família tem certeza que irá te ver! Então a comemoração é mais gostosa, assim também como o bolo. Não lembro de ter tido um bolo tão gostoso em meu aniversário. Pena que não pude comer mais, no outro dia já tive que voltar para São Paulo.

Eu curti apenas metade do dia por ter pendengas a resolver. Mas aconselho a não fazer absolutamente nada! A regra é curtir cada segundo deste dia cultivando o ócio, relaxando com a família e tomando uns chopps com os amigos! Por ser a única folga certa do ano, você deve fazê-la especial e única. E claro, por ser também o dia de celebração de mais um ano na sua vida - mais um ano voando.

Estou feliz. Amanha faço exatamente um ano de voo (e não de empresa, pois tivemos 3 meses de treinamento mais um mês esperando CHT). E como passa rápido!

Aliás, tenho tido cada vez mais essa sensação - de que o tempo passa a velocidade de um jato.

terça-feira, 20 de março de 2012

MEU FONE DE OUVIDO, MINHA FUGA


Esses dias voei com uma tripulação muito bacana! Não deu para curti-los muito porque os três dias de vôo tinham pernoites no Rio, portanto dormi em casa em todos eles. Mas tinha apenas um detalhe que me incomodou - um dos tripulantes técnicos.

Sabe aquela pessoa que reclama de absolutamente tudo? Reclamava da escala, do hotel, da van, do avião, da vida....e pricipalmente, da empresa! Como já tinha dito aqui, num post anterior, reclamar é natural do tripulante - mas ele era demais! Não consigo entender como uma pessoa que ganha tão bem como ele, ou seja, possui uma conta bancária gorda, reclama tanto da empresa mas não tem coragem de sair.

Onde quero chegar: Cada um faz o que quer da vida e cada um mantém o estilo de vida que quer, reclamando ou achando tudo perfeito. Mas como sou um membro da tripulação, acabo tendo que ouvir as reclamações exageradas de algumas pessoas, certo? ERRADO! Tenho uma arma infalível contra rabugentos: meu super mega fone de ouvido!

Quando o papo começa a ficar sem sentido, baseado somente na reclamação de tudo, eu saco meu fone do porta casaco e ponho logo as músicas que gosto! É uma fuga saudável! Uma vez um comissário chamou o fone de ouvido de DAS, Dispositivo Anti Social. rs Mas ele de fato é uma arma eficaz contra reclamões de plantão - pena eu só poder utilizá-lo na van que faz o transfer hotel-aeroporto. Mas é fato que na van se concentram mais de 90% das reclamações. Então o fone resolve mesmo!

O fone também me ajuda muito a me concentrar e relaxar antes do vôo. Às vezes ninguém fala nada na van, e fica aquele silêncio irritante. Nada melhor do que meu DAS para me distrair. Me sinto como um jogador de futebol a caminho do estádio com aqueles fones enormes para relaxar no pré jogo.

Música é um dos meus maiores combustíveis e minha melhor fuga.

quinta-feira, 8 de março de 2012

BASE RIO - TÃO ESPERADA....ESCAPOU....por enquanto...


Desde que eu entrei na empresa, falavam da possibilidade de ser implantada uma base no Rio de Janeiro. Mas as pessoas que estavam há anos na cia falavam que essa lenda era mais que antiga.

Mas finalmente, no ano passado, a lenda começou a tomar forma e se tornar realidade. A cia montaria uma base na Cidade Maravilhosa! Mas de início somente para os tripulantes do Internacional. Ah, foi por pouco! Mas não deixei de me imaginar lá um dia! Uns 2 meses depois, os boatos que cercavam o D.O. se tornaram reais e a base Rio para vôos nacionais também seria montada! Parecia um sonho!

Imagina como seria sair da minha casa para trabalhar, fazer sobreaviso no meu sofá e finalmente sair dessa vida de morar na ponte aérea Rio-São Paulo! Seria incrível!

Em dezembro realizaram uma enquete para saber quantos interessados seriam. E em janeiro as inscrições para a migração da base foram realizadas. Foi o assunto mais comentado no D.O. neste mês! Muitos boatos rolaram sobre quantos comissários seriam necessários para montar a base. O boato que mais rendeu era que todos os inscritos entrariam. E não tem como não ganhar mais esperança quando um boato desse é tão comentado! Eu estava praticamente certo que eu iria para base Rio. E óbvio, estava cheio de planos. Certamente minha vida iria ser um pouco mais fácil e fora que deixaria de pagar o aluguel de SP, uma economia que seria muito bem vinda!

Dia 10 de fevereiro, já de férias, eu entrava de cinco em cinco minutos no site para ver se o resultado havia saído. E nada! No fim do dia eles notificaram que o resultado havia sido transferido para o dia 13. Quase surtei de tanta ansiedade. Nossa, como sou ansioso! Preciso melhorar isso em mim! rs

No dia 13 eu estava bem relaxado devido as férias e num momento maravilhoso do meu dia. Quando finalmente decidi checar o resultado, tive um choque! Eu não havia entrado! Foi por pouco! Por poucas cabeças! Droga! Como fiquei decepcionado! Eu sabia que isso poderia acontecer mas como preferi acreditar nos rumores de que todos entrariam, acabei inflando muito minhas expectativas. Por isso a tristeza acabou sendo maior.

Precisei de 24 horas para me recompor. Afinal de contas, estava de férias e não poderia deixar que isso me abalasse! E foi o que aconteceu. Me conformei, com a certeza de que haverão outros processos migratórios para a base em breve e minha hora vai chegar. Pensando assim, minhas férias fluíram mais que perfeitas e o retorno a vida de "ponte-aérea" não foi dolorosa. Faz parte do show!

PRÓXIMO POST: MEU FONE DE OUVIDO, MINHA FUGA, MEU ESCUDO.

sexta-feira, 2 de março de 2012

VOLTA AOS ARES


Se eu estou com saudade de voar? Sim, muito!

Se eu vou sentir saudades das minhas férias? Mais ainda!

Eu que não queria viajar para passar tempos mais tranquilos em casa, me surpreendi com minhas férias. Foi loucura total! Até porque no meio do mês aconteceu o famoso carnaval. E aí todos imaginam como pode ter sido! rs Como estava livre o mês inteiro, meu carnaval durou exatamente nove dias, sem parar: blocos, rua, amigos, noitadas! Foi um carnaval inesquecível e que contribuiu muito para essa sensação nostálgica que já estou sentindo pelas minhas férias. Isso sem contar os dias de praia, leitura, shopping, calçadão, barzinhos, novas amizades, novas paixões. Foi tudo muito intenso.

Creio que consegui fazer 90% do que tinha estipulado em uma lista para estas férias. Renovei habilitação, consertei algumas coisas em casa, visitei a familia (menos do que eles desejavam), organizei pastas e documentos. Enfim, coloquei muita coisa em ordem. Os 10% que restaram acho que consigo dar conta neste mês de março (espero!).

Pois é, pessoal! Tudo que é bom dura pouco. As férias acabaram exatamente hoje. Voltarei a voar dentro de algumas horas! Confesso, como já disse lá na primeira frase, que senti saudades. Mais saudade da rotina maluca, da mudança de cidades em tempo recorde e dos sabores que passei a apreciar em alguns estados. Ou seja, senti falta da loucura!

Fiquei pensando agora: Será que vou lembrar do que tenho que fazer? rs Será que vou conseguir acordar na hora? Será que vou lembrar de como voar? rs É só insegurança de quem volta de férias!

Me sinto um buda de tanta tranquilidade! Estou tão relaxado e em paz comigo! Férias é direito trabalhista mas, gosto de vê-las como um momento vital e de extrema sobrevivência de qualquer profissional. É totalmente refrescante!

Estou pronto! Meu uniforme passado, sapato engraxado, barba feita e cabelo cortado! Vamos voar!

Volta de férias, volta ao blog! Quando se voa, se tem mais histórias para contar! E é isso que vou continuar fazendo!

PROXIMO POST: BASE RIO

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

FÉRIAS


Antes de postar a segunda parte das manias de comissários, preciso postar sobre férias. Afinal de contas as minhas começaram no dia primeiro de fevereiro.

Desde que comecei a voar eu ouvia meus colegas dizerem que o tempo passava muito rápido e quando eu menos esperasse já teria um ano de empresa. E de certa forma eu acreditava, mas não conseguia sentir essa rápida passagem de tempo.

De repente chegou dezembro e eu fiz meu primeiro aniversário de empresa. Comecei então a olhar para trás e lembrar de tudo o que havia acontecido nos últimos doze meses e cheguei a conclusão de meus colegas: O tempo passa realmente muito rápido.

Estou de férias! E essa sensação é muito boa! Me perguntaram muitas vezes se eu viajaria e para onde...Sabe qual foi a minha resposta? Nenhum lugar! Eu realmente quero ficar em casa, curtindo meu canto, minha praia, meus amigos e talvez criar uma rotina de uma pessoa normal. rsrs E ainda por cima vou passar carnaval de folga - e para ser sincero, eu sou apaixonado por carnaval!
Já fui para tantos lugares nos últimos 4 anos que agora o que mais eu desejo é curtir férias onde elas acontecem para muitas pessoas: no Rio de Janeiro, na minha cidade. E melhor ainda, vou economizar dinheiro - o que é fundamental para um comissário. É sempre bom manter uma reserva para emergências ou para investimentos em bens, como carro ou casa.
Desta vez vou tentar fazer programas inusitados e conhecer lugares ainda não explorados no Rio, e de noite voltar para casa e dormir na minha cama. Bom demais.

Ano que vem talvez eu volte a explorar lugares mais distantes. Caribe ou Ásia....Alguém se aventura comigo nesse mochilão?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

OS COMISSÁRIOS E SUAS MANIAS - PARTE I


Voar, além de ser muito prazeroso e cansativo, é muito engraçado. Às vezes vindas da cultura familiar, às vezes adquiridas em vôo, nós comissários temos muitas manias. Desde as mais bizarras até as mais engraçadas, eu sempre me divirto com elas. Vou contar algumas que já presenciei, e tenho certeza que muitas ainda estão por vir.

Alguns têm manias mais simples como a de entrar no avião com o pé direito ou fazer o sinal da cruz três vezes. Ou também a comissária que leva seu próprio "bom ar" para borrifar nos toaletes que estão com mal odor. Tem também a comissária que desinfeta toda a galley antes de usar.

Algumas manias são relacionadas a alimentação. Existe o comissário que leva uma vasilha com azeite e pimenta para colocar gosto na comida do avião. Ou então o que pega o peito de frango que embarca para a gente, desfia, coloca manteiga e joga no forno! rs As comissárias de dieta não comem nada do avião - elas levam seus shakes da Herbalife ou suas próprias misturas para comer quando dá tempo. O comissário fortão leva um cacho de bananas e come ele inteiro durante um voo longo. Já aceitei uma dica de uma colega para molhar o bolo, que embarcou de sobremesa para a tripulação, com suco de laranja - depois que sai do forno fica uma delicia!

As mais vaidosas não param de passar seus hidratantes ou borrifar suas aguas termais, compradas em Buenos Aires, no rosto. Algumas comissárias usam desodorantes em aerosol para tirar o mal cheiro de suas satilhas. Descobri uma vez com uma delas que as folhas descartáveis que forram o vaso sanitário são ótimas para tirar a oleosidade da pele. rs

(CONTINUA...)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A SOLIDÃO


O ano começa com muito trabalho! Muitas horas passadas no céu, muita pressurização e muito mais histórias para contar. Trabalhar em aviação é como escrever uma crônica por dia. Tantas histórias e pessoas passam por nós em tão pouco tempo que se cada comissário decidisse escrever um livro, encheríamos uma biblioteca. E são essas histórias que escreverei aqui no blog este ano.

Como sempre digo, a profissão de comissário tem lados positivos e negativos como qualquer outra. E nada mais negativo do que a solidão no dia a dia de um tripulante.

Fico longe da família a maioria do tempo e quando tenho que ir para São Paulo, para onde moro, quase nunca tem alguém até porque todos estão voando também. Acabo passando a noite sozinho até dar a hora de me apresentar para vôo. Quando tenho que me apresentar para trabalhar, normalmente não conheço ninguém da tripulação. Logo tenho que, pelo menos no início, manter-me distante. Afinal de contas ainda não sei se posso confiar ou não naquelas pessoas. Quando chego no hotel, nem sempre a tripulação marca de sair junto e às vezes fico sozinho no quarto do hotel tentando arranjar formas de passar o tempo.

Ou como aconteceu comigo uma vez quando tive um inativo em Campinas e toda a tripulação era de lá: Fiquei no hotel sozinho. Também tentei encontrar formas de passar o tempo. E de certa forma consegui - mas nada substitui a interação com as pessoas. Foi brabo!

Quando estou numa cidade onde não curto muito passear ou que não tem muita coisa para fazer, fico hibernando no quarto. E quando o tempo é muito grande dá vontade até de falar com as paredes. E não adianta tentar escrever, ler um livro,conversar na internet....às vezes o quarto do hotel vira uma prisão sem saída, pelo menos até a apresentação no dia seguinte. rs

É mais ou menos assim que funciona. Ficamos muito sozinhos sim! E todas as semanas essa sensação de solidão nos invade. O combate é continuar tentando ocupar a cabeça e tentar falar pela internet com o povo que você conhece.

Isso acontece menos quando a tripulação toda se junta, ou pelo menos parte dela, para sair e passear. Aí esses momentos trazem um tom de férias ao negócio todo. É bacana! Todo mundo meio que cura a solidão do outro - e na maioria das vezes sem perceber.

Na verdade, talvez a melhor forma de se curar os momentos de solidão que a profissão traz é encontrando um amor, um relacionamento sério. Mas ainda não passei por essa história para contar. rs

Foto:http://www.metrolic.com/loneliness-and-health-issues-3974/

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