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terça-feira, 30 de agosto de 2016

A ARTE DE VOAR. A ARTE NO VOAR.

Eu acredito genuinamente que enxergar a poesia nas coisas me faz viver melhor. Eu gosto de ver beleza no sofrimento, superação no esforço, renascimento no fracasso e acima de tudo, muita luz na vitória. Eu sou intenso ao quadrado. E tento levar isso pra minha vida profissional também. Gosto de enxergar poesia no voar. Eu acho voar poético ainda que seja algo técnico e extremamente cartesiano. Tanto na vida íntima como na profissional há de se pagar um preço por tanta intensidade. Parece que sofrer é mais doloroso, mas sair lá de baixo é lindo também. É uma confusão emocional.

As instablidades do mercado faz sacudir a aviação! Você entra nesse mundo e nunca sabe se no ano seguinte você estará empregado! É difícil demais! Nesses últimos tempos, minha empresa passou por muitas mudanças e meu voar poético ficou extremamente comprometido. Agora já está superado e por enquanto, a certeza de estar empregado está mantida.

Nesses dias difíceis, ainda que o desânimo me consumisse, e a vontade de trabalhar fosse reduzida, eu naturalmente enxerguei certa poesia nesse universo. Eu tentava criar metáforas para aquilo tudo. Me fazia enxergar a crise de uma forma totalmente diferente dos demais. Sendo assim, passei a enxergar minha função da seguinte forma: Ser comissário, é como ser um ator de teatro.

Quando chegamos no avião, temos um papel a desempenhar. Temos a técnica e o emocional a disposição daquele palco. Nossos passageiros são a platéia. Eles esperam da gente credibilidade, simpatia, cortesia e sorriso, muito sorriso. A platéia não sabe e nao quer ver por trás dos uniformes. A vida pessoal de cada comissário não está ali em questão. Ficamos ali, totalmente fechados dentro dos uniformes porém extremamente expostos. Nós atores, independente de qualquer coisa, temos a obrigação de oferecer o que o público espera.

Em tempos difíceis, o comissário luta para não deixar transpassar qualquer tipo de emoção que não seja a esperada pelo público. Como controlar? Como sorrir quando se quer chorar? Como interagir quando se quer estar sozinho? Como oferecer quando você quer receber?

É isso que faz um grande ator/comissário: Controlar as emoções, respirar fundo e seguir. Ser profissional é saber dar o que o cliente quer receber, e com muita honestidade. Oferecer um sorriso falso é perceptível. O fundamental é sorrir porque você sabe que é importante para quem está ali e não porque você "tem que" sorrir. É comprometimento e não obrigação. Fica verdadeiro, fica bom, fica ideal.

Nessas últimas semanas eu me vi no palco, interpretando, tentando passar verdade ao público, engolindo lágrimas e soltando sorrisos. Tentando entender o que cada um queria de mim e tentando canalizar o pessimismo íntimo numa felicidade pública.

Não sei ao certo se consegui com todos os clientes. Provavelmente não. Mas depois que toda a tempestade passou, quando eu cheguei em casa, eu me senti numa cochia, com a cortina fechando e os aplausos rolando. Eu enxerguei uma superação, um ato de coragem e profissionalismo. Eu consegui. Eu fiz o que tinha que fazer.

Fim

quinta-feira, 21 de maio de 2015

QUANDO AS ASAS PULAM PRA FORA DA ROUPA



Quando eu me vejo numa completa inércia sempre surge um fato que me faz entrar em plena mudança. Sempre quando eu menos espero. 

Aquele dia comum, de pura rotina, quando volto para casa de mais um dia de trabalho, sento no trono e de repente, surge a mensagem. Eles já haviam me chamado mas eu não estava disposto, fazendo referencia ao bordão do momento. E a chamada veio exatamente num momento em que eu desejava com todas as minhas entranhas mudar. Me sentia preso, estagnado numa inércia chata e entediante. Eles me chamaram de volta. Inesperado.

Neste momento, projeções para o futuro, viagens, mudanças, metamorfoses e inquietação. Será a hora de voltar? SIM! Era hora de voltar! As minhas asas estavam nervosas, querendo pular definitivamente para fora da roupa. 

Depois de uns dias pensando em como seria esse retorno, dei o check mate. Comuniquei a quem era de desejo meu saber e pronto. Fui!

Depois de um ano e sete meses fora, eu volto para a aviação. E mesmo sabendo dos percalços que sempre existem, eu me deparei com a saudade que sempre senti nesse tempo fora mas que para mim era fundamental abafar. Saudade de ser meio bicho solto, de interagir, conhecer, desbravar, e saudade da grana das diárias, é claro. rs Mas acima de tudo saudade de voar. Voar no sentido literal da palavra. Saudade de ficar lá em cima mesmo.

Parti para São Paulo com o objetivo de resgatar da memória o que na verdade nunca tinha saído da cabeça: Definições, procedimentos, simulações e todo o resto que me faria sair da gaiola. Neste momento, fazíamos parte de uma turma que tinha muita história para contar. Aquele dia fatídico quando todos foram mandados para a RUA nunca saiu das nossas cabeças. Foi bom ouvir o que cada um passou depois daquele dia. Uns conseguiram algo, outros não. Mas o importante é que todos estavam ali, prontos para outra.  

Esse fim de semana que passou, voltei a ativa. Engraçado é que fechei os olhos por um segundo e quando abri, a impressão que tive era que o 1 ano e 7 meses que passou
, foi apenas um sonho ruim. Era como se eu tivesse voltado de férias prolongadas. Uma sensação de que agora tudo estava no lugar novamente. E realmente está.

O mais legal é ter a fome de escrever de novo. Meu olhar inquieto, que observa tudo ao redor está de volta. E a vontade enorme de compartilhar tudo o que sinto e presencio se faz maior do que nunca.

Se estou feliz? MUITO! 

Bora voar, meus amigos!!! Vamos voar longe!!!


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

FIM DE LINHA - O ÚLTIMO DIA



Cheguei em São Paulo depois de pegar uma ponte aérea macabra. Logo eu, que adorava pegar ponte, estava aflito e com sentimento de estar definitivamente indo para a forca.
Peguei um transporte e me dirigi para a Academia de Treinamento da TAM. Era lá que tinham marcado comigo e com mais outra dezena de tripulantes. Naquele momento todos já sabiam o que estava por acontecer.

Já na portão principal, havia um homem com um plancheta na mão. Somente poderia entrar lá quem estivesse na lista. E nesta lista, meus amigos, ninguém gostaria de estar. Como eu gostaria de ser barrado nesta festa. A primeira pergunta que este homem fez foi: Tudo bem? Eu, já tomado por um triste sentimento, respondi: Não, serei demitido hoje! Ele não tinha culpa. Sua infeliz pergunta o fez ouvir um comentário irônico e raivoso. Não me senti culpado.

O esquema para essa demissão coletiva foi de uma grandiosidade que nunca havia visto. Me senti num campo de concentração. Aquele homem que havia me perguntado se estava tudo bem foi a primeira e última pessoa que ensaiou algum tipo de alegria. Talvez numa tentativa de nos fazer sentir melhor. Todas as outras pessoas que falaram conosco estavam sérios, serenos e pior, sem graças. Eles estavam meio sem reação. Estava claro que eles não estavam confortáveis com o papel que estavam exercendo.

Nós fomos divididos em grupos. Entramos numa sala onde havia sido preparado um café da manhã. Acreditem! Eu ainda tomado pela ironia disse: Nossa! Me sinto num velório norte americano onde apesar da tristeza de todos, havia uma festa preparada para os convidados!
Havia um clima de tristeza muito grande na sala. Como foi estranho. Sobre a tristeza falarei daqui a pouco.

Fomos encaminhados para outra sala onde nos encontramos com integrantes da chefia de tripulação de cabine. Elas estavam aparentemente tristes e com cara de enterro. Foi explicado o porque de estarmos ali naquele dia. Era uma tentativa frustada de mostrar o lado humano da empresa. O porque de estarmos ali não era novidade para ninguém. Algumas pessoas choravam, outras desabafaram e mostraram sua enorme indignação. Eram histórias tristes e desconfortáveis de ouvir.

Fomos para outra sala. Eu fui o primeiro e entregar meu crachá. A partir daí veio todo aquele processo legal de desligamento. Me entregaram uma carta de recomendação. Eu ri e desabafei que aquela carta não me serviria de nada visto que quem a escreveu não conhecia de fato meu trabalho. Era uma carta padrão e que para mim de nada valia.


***

Aquele emprego não era o meu primeiro. Nunca tive o sonho de voar. A oportunidade veio de um desejo instantâneo e uma necessidade de procurar algo novo. A profissão me conquistou e inspirava minha arte. Voar me inspirava a escrever e a me jogar no Brasil de forma quase poética. Mas de fato aquele emprego não me tocava. Ele não vinha do meu imaginário infantil. É claro que perder aquele emprego não estava sendo fácil. E eu precisaria ralar muito para conseguir outro. Mas ainda sim era mais um emprego.
Quando cheguei em casa eu chorei. Chorei muito. Solucei. Chorava como criança. Eu tinha perdido um emprego apenas. Minhas lágrimas vinham do sofrimento de meus amigos. Eles estavam perdendo um sonho.
Aquelas meninas, minhas amigas, que sempre sonharam em voar. Aquelas lindas que largaram suas cidades e foram morar sozinhas em São Paulo em busca do sonho de ser Aeromoça. O sofrimento delas que me fez chorar. Elas tiveram um sonho brutalmente interrompido. Como elas sofriam. Doía de ver. Elas pareciam perdidas, sem saber o que fazer. Sem saber como viveriam sem voar. A tristeza delas me tocou muito. 
Dias como este eu não desejo a ninguém. Foi pesado demais. Foi sofrível.


***

Após o processo legal de desligamento e o fornecimento de algumas passagens cortesias para que pudéssemos voltar para casa, nós tínhamos somente um caminho a seguir: o de saída.

Tenho certeza que a empresa não pensou no último detalhe. Eles não se atentaram para o fato mas para mim e para muitos outros foi tristemente simbólico: Saímos pela porta dos fundos da Academia de Treinamento.

Quando eles precisaram da gente e nos admitiram para aquecer o crescimento da empresa, entramos engravatados e engomados pela porta da frente. Quando entraram em crise e precisaram nos desligar, saímos com roupa comum, chorando pela porta dos fundos. Não tinha mais o que fazer. Poucos conversaram.

Fui embora pensando como faria daquele dia em diante. O futuro não tinha ideia de como seria.

Assim encerrei meu ciclo na aviação. Foi intensamente apaixonante. 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

SAM 26: O DIA EM QUE TUDO VIROU DE CABEÇA PARA BAIXO.




Julho de 20013 - Eu estava num bar almoçando com um amigo num dia de domingo ensolarado em Ipanema. De repente recebo a mensagem de outro amigo, um comissário colega de trabalho. Era final de julho e a escala de agosto estava por sair. A publicação da escala sempre gerava muita expectativa pois saberíamos para onde iríamos, quantas horas iríamos voar e como planejaríamos nosso mês.
Nesta mensagem, esse amigo meu perguntou sobre o que estava publicado para mim no dia 26 de agosto. Senti um pouco de tensão nas palavras. Eu ainda não havia visto a escala. Naquele momento não tinha muita ideia do que estava por vir. Abri a escala e estava publicado no dia 26 de agosto: SAM. Significado: Sobreaviso manhã. Para mim naquele momento significava mais do que apenas um sobreaviso mas sim uma mudança radical na minha vida - a perda do meu emprego.
Devido a whatsapp e redes sociais a notícia do SAM alastrou por toda a empresa. Dezenas e mais dezenas de tripulantes chegaram a uma conclusão: Todos estavam com o mesmo sobreaviso publicado. Todos estavam com o mesmo destino traçado. E vou repetir, eram muitos tripulantes. Então o boato das demissões estava se tornando realidade.
Nos dias seguintes não se falava outra coisa. A demissão em massa era inevitável. A empresa estava em crise e precisava enxugar de todos os lados. Os fóruns e conversas de corredor levantaram um fato triste. A empresa demitiria todos sem dó. E demissão em massa não funciona assim. A lei prevê outros caminhos. Por isso, o sindicato entrou em ação! Medidas legais precisariam ser tomadas para que esse "passa fora" coletivo fosse organizado. A empresa parecia que estava fingindo não ver as indagações e polêmicas com relação ao acontecimento.
Isso tudo foi bem na época dos protestos que aconteceram por todo país. E a inspiração estava lá. O saguão do aeroporto de Congonhas ficou tomado por tripulantes com o sem uniforme, com ou sem máscaras. Estavam todos cobrando e protestando contra a demissão. A imprensa entrou no jogo e o protesto entrou em cadeia nacional. Era notícia principal do Jornal Nacional. E quando a imprensa entra todos sabem que o negócio fica bem diferente.
A TAM se pronunciou finalmente. A demissão ocorreria de fato. Mas seria de forma diferente. Eles abririam primeiro para demissões voluntárias. Em seguida funcionários poderiam pedir por licença não remunerada. E a partir daí as demissões ocorreriam. Foi muito difícil. Muita gente chorava durante os voos. Ficaríamos o mês de agosto inteiro voando numa tensão. Claro que as demissões aconteceriam por tempo de empresa. E as turmas mais novas seriam inteiramente afetadas.
Eu havia entrado na TAM em dezembro de 2010. Era da turma 116. A última turma era a 121. Eu já estava há quase três anos na empresa mas mesmo assim fui contemplado com o tal do SAM dia 26. Esse SAM foi publicado na escala das turmas 115 a 121. Depois não havia mais voos. Todos esses estavam ameaçados.
Foi muito difícil para todos. Eu já estava procurando emprego, assim como muitos. Outros ainda tinham esperança. Outros não gostavam de tocar no assunto. Não queriam encarar o fato.
Na manhã do dia 26 de agosto meu telefone tocou. Não quis atender. Tocou novamente. Eram eles. Me convidavam para uma reunião com a gerência dois dias depois. Minha cabeça estava prestes a rolar. Não tinha mais o que fazer.

(Continua)

terça-feira, 15 de julho de 2014

O QUE ACONTECEU....


Não sei exatamente como surgiu a ideia de voltar para o blog. Confesso que por meses esqueci que ele existia. Vou compartilhar o que aconteceu  na minha vida com quem compartilhou comigo todos os textos que com muito coração, inspiração e sinceridade escrevi todo esse tempo.

Minha grande fonte de inspiração para o blog era minha profissão. Voar me provocava a escrever e me inspirava a por em palavras todas as minhas percepções, as vezes poéticas, as vezes realistas da minha rotina como comissário de voo da TAM. Eu gostava disso. Quanto mais eu via e vivia mais queria compartilhar.

Pouco depois que escrevi o último texto, eu já estava consumido pelo cansaço. Para ser sincero o que mais me consumia era a inércia onde eu estava. Antes da paixão que despertei por voar, meu desejo de crescer e minha ambição eram grandes demais para o avião que voava. Eu queria mais - mais responsabilidades, mais dinheiro, mais intelecto. E naquele momento não conseguia ver no voo esse futuro. Além do mais, eu estava namorando e aquele desejo de querer sempre ficar em terra começou a aparecer. E de repente ir para Fortaleza ou Natal não era mais tão excitante. A poesia de voar estava sendo tomada por um desejo enorme de subir na vida e ganhar dinheiro.

Então, de uma forma bem tranquila eu comecei a buscar caminhos alternativos. Eu não poderia sair de qualquer jeito. Eu tinha contas a pagar. Eu precisava encontrar algo tentador que me fizesse sair do voo. Eu não sairia de forma leviana. Eu ainda gostava de voar. Posso ouvir ainda o barulho das turbinas...o som dos motores ao máximo na hora da decolagem...

Em julho de 2013 os boatos se tornam cada vez mais concretos. Uma sensação de insegurança infestava os aeroportos e hotéis por onde todos nós, tripulantes da TAM, estávamos espalhados. Uma demissão em massa dolorosa estava próxima.

Tema do próximo post: O momento que ninguém esperava.

terça-feira, 28 de maio de 2013

EU SOU DA PONTE.

Rio de Janeiro e São Paulo são as duas maiores cidades do Brasil, duas grandes metrópoles de importância suma para a economia do país. Ou seja, muito dinheiro circula entre essas cidades. Logo, muitos negócios. Logo, muitos executivos. E para tornar possível essa circulação, as grandes companhias aéreas oferecem voos de 30 em 30 minutos, praticamente todos os dias da semana (sábados e domingos o fluxo fica menor, é claro) para todos esses homens e mulheres de negócios.

Ponte Aérea é outra história, é outra aviação! É diferente de todos os outros voos que giram este país. As passagens são as mais caras, o público, em grande parte masculino, busca pontualidade e eficiência. De segunda a sexta, é aquele fluxo diário de engravatados que fazem desta ponte imaginária uma mina de ouro.

Eu sou um adorador da ponte aérea! É o voo mais tranquilo e gostoso de fazer! É rápido, curto, bem como seus passageiros esperam. Eu sou da ponte. Gosto de trabalhar para passageiros que voam com frequência, para aqueles que sabem exatamente o que fazer quando entram no avião, para aqueles que usam o avião como um meio de transporte, não como restaurante. Gosto de voar para passageiros que me chamam pelo nome, ou com um "por favor" ou "com licença".

Por ser frequentada por muitos executivos, atores globais, políticos e afins, a ponte aérea é o voo mais visado da empresa. Você acaba sendo bastante observado. E isso realmente não me incomoda. Para alguns amigos da empresa fazer esse voo é um pesadelo, um martírio. Para mim é um prazer. É sempre bom pousar no Santos Dumont, fazer voos rápidos, pontuais e de pessoas educadas e na boa parte das vezes elegantes.

Mas não existe o voo perfeito. Em duas situações a ponte aérea pode ficar bem amarga. A primeira é: eles nunca desligam o celular! Verdade! Mesmo voando várias vezes por semana eles cismam em usar seus celulares e laptops quando já pedimos duas ou tres vezes para desligar. Eles nunca querem desligar. Eles têm uma enorme dependência em seus celulares. E ter que pedir para eles desligarem várias vezes pode irritar.

Segunda situação: Não bata muito de frente com os passageiros. Tente contornar a situação e achar uma forma de resolver o impasse sem que nenhum dos lados saia por baixo, nem você, nem ele. Os passageiros da ponte aérea conhecem todos os canais para reclamarem de você na direção. rsrs Então trabalhe como a empresa espera, faça o que está escrito e nunca bata de frente com eles.

O mais legal da ponte aérea é, na minha opinião, poder jogar um verniz no meu atendimento e ser reconhecido por isso. Eles percebem quando você trabalha bem. E essa percepção
faz sentir-me empolgado e com cada vez mais vontade de chegar a perfeição no atendimento. É possível e muito prazeroso.


sábado, 20 de abril de 2013

O COMISSÁRIO E O SMART PHONE

É obvio que quando trocamos de emprego buscamos uma melhor remuneração. Isso quer dizer que a maioria das pessoas que entram na aviação, e eu arrisco dizer todas, depois que começam a voar passam a receber bem mais do que recebia antes.

Onde quero chegar.....Bem, passamos a ter um padrão de vida mais elevado e certamente custos mais elevados também. Procuramos comprar coisas que tínhamos o desejo de comprar e que finalmente está dentro da nossa realidade. O mais engraçado é que por coincidência ou modismo mesmo todos os comissários acabam tendo o desejo de comprar as mesmas coisas.

Primeiramente, o que um comissário compra assim que começa a voar é, sem nenhuma dúvida, um smart phone. Ou melhor, um Iphone ou um Galaxy. A partir daí descobrimos que não conseguimos mais viver sem ele. Depois o consumo vai aumentando. Aí compramos um tablet. Tem os mais ousados que trocam de carro no primeiro ano de voo e dividem em muitas prestações. Tem até uma AFA (Associação dos Fofoqueiros da Aviação) que diz que o kit comissária é: Um iphone, um Citroen C3 e silicone. AFA ou não, fato é que centenas delas possuem os três. rs

Voltando ao assunto do smart phone, está aí algo que todos os comissários jamais abrem mão: um iphone e seu inseparável carregador! Descobrimos que ele é fundamental nas nossas vidas. É o que nos aproxima de casa, que nos entretém através dos jogos, que ajuda a pagar as contas, ouvir músicas e principalmente, que nos ajuda a livrarmos da inevitável solidão que é voar.

PS. Esquecer o carregador do iphone em casa é o fim! O comissário fica deprimido e inicia uma busca implacável atrás de alguém que tenha carregador igual! E é claro que sempre alguém tem. rs

Quando chego ao DO para me apresentar para voo, eu observo que mais de 90% dos tripulantes estão mexendo em seus telefones ou tablets. É algo tão comum quanto comer feijão com arroz. Quando estamos na sala de briefing, ficamos com ele escondido no bolso ou bolsa. Basta sair da sala para sacar o telefone de novo e começar e teclar, teclar e teclar - falando com a namorada, olhando o facebook ou mesmo jogando candy crush!

Ao chegarmos em alguma cidade, a primeira coisa que todos fazem é ligar o celular e ver mensagens e ligações. Muitas vezes, dentro da van rumo ao hotel, ninguém fala com ninguém, apenas interagem com seus celulares. Uma vez, em Macapá, fiquei extremamente irritado porque sentamos em seis numa mesa de restaurante e imediatamente percebi que ninguém falava com ninguém, todos com iphone na mão. Na hora brinquei e comecei a fingir que estava arrancando os iphones das mãos de todos e disse: Então! Vamos conversar?!
 

Mesmo sendo fundamental no nosso dia a dia, o smart phone é uma armadilha feroz rumo a uma vida de tripulante anti social. Se não nos cuidarmos, ficaremos isolados junto ao nosso telefone, e sem trocar ideia com absolutamente ninguém. Isso acaba nos tornando mais solitários ainda em casos extremos. Tanto que chamamos o celular de DAS (Dispositivo Anti Social).

É muito ruim perder o interesse em trocar figurinhas, informações e cultura com pessoas legais e tão diferentes como são os membros de uma tripulação. Claro, se a pessoa for mala o celular é crucial para fingir que está ocupado e fugir de um papo chato! rs

Enfim, meu iphone é meu oxigênio, preciso dele na minha vida. Mas até oxigênio em excesso é ruim, certo?

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