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quarta-feira, 10 de novembro de 2010
AMIGOS, PAIXÕES E ANJOS DE VIAGEM - CAPITULO I: O ITALIANO DE MADRID
Viajar sozinho é ótimo e te desperta uma independência e auto confiança que mudam sua vida. Entretanto, momentos de solidão são clássicos em viagens e inevitáveis quando se explora um lugar sozinho. E nestes momentos o que você mais quer é que uma pessoa cruze com você em qualquer esquina e te faça sentir acolhido e não mais o ser mais solitário do mundo. No meu caso, essas pessoas sempre aparecem - até porque me abro para estas possibilidades que, de fato, não podem ser desperdiçadas. O destino sempre foi bom comigo o suficiente para colocar em minha vida pessoas que fizeram as minhas viagens muito mais prazerosas.
CAPÍTULO I - O ITALIANO DE MADRID
Estava ansioso para a minha grande viagem sozinho! Madrid era a primeira Cidade! Quando se pisa pela primeira vez em um local você se sente perdido e não sabe por onde começar. Esta sensação é gostosa e faz parte do script. Sendo Madrid, queria conhecer a movida, a noitada! Saí por volta das onze da noite e as ruas estavam vazias! Fui ao Albergue e resolvi deitar. Quando já era uma hora da manhã começei a ouvir o barulho das pessoas saindo de casa. É...a movida começa bem tarde! Tarde mesmo! Resolvi então deixar para o outro dia.
Na noite seguinte saí do albergue depois de uma hora da manhã. As ruas estavam lotadas e tinham várias opções de lugares para entrar. Acho péssimo sentar sozinho na mesa de bar, me sinto muito mal. Teria que ir a uma boate ou coisa assim. Como estava em Chueca, queria um tipo de lugar bem específico - e lá o que não faltavam eram estes tipos de lugares. Então comecei a vagar sozinho pelas ruas. Parava em frente aos lugares, observava que tipos de pessoas entravam nos bares e boates. Entretanto, por algum motivo eu ficava travado e não conseguia entrar em nenhum. Continuei caminhando e comecei a me sentir perdido e sozinho. Pensei em voltar para o albergue e mergulhar na solidão de minha cama.
Quando virei uma das esquinas de Madrid (que parecem todas iguais) cruzei com um garoto. Ele nem havia olhado para mim - estava andando e lendo um guia da cidade. De repente ele parou, começou a olhar as placas das ruas que se cruzavam e a comparar com seu mapa - parecia perdido. Tinha 1,73m, cabelos castanhos claros, olhos bem verdes e branco como folha de papel - era um cara bonito. Por um impulso que só um homem que se sente sozinho tem, resolvi ir falar com ele. Como ele parecia perdido, senti que poderia ajudá-lo e ele a mim. Minha intuição dizia que ele era legal. Perguntei a ele se ele estava procurando algum lugar específico e se precisava de ajuda, em espanhol. Ele não entendeu. Comecei então a falar inglês. Embora ele não tivesse o melhor inglês do mundo, a gente conseguia se comunicar. Ele disse ser italiano, que ainda não sabia exatamente que lugar queria ir, e me mostrou seu guia. Era um guia com os tais lugares específicos que eu queria conhecer. Eu, com um sorriso de alívio e felicidade, disse que procurava pelos mesmos lugares e propus que procurássemos juntos. Ele topou na hora.
Então, eu e Francesco, que tinha a mesma idade que eu, começamos a passear pela madrugada em meio a uma Madrid quente e que fervilhava. Fomos juntos às portas de vários lugares e nesta procura, conversamos muito sobre nossas vidas. Foi a parte mais legal. Me senti no filme Antes do Amanhecer, porém em Madrid. Decidimos entrar num bar e tomar uns drinks. Depois, já alegres, fomos a uma boate. Não imaginava que poderia acontecer outro tipo de interação, mas aconteceu. E foi muito bom. Quando saímos da boate resolvemos nos ver no dia seguinte em frente a estação do metro de Chueca, às onze da manhã.
Quando cheguei às onze da manhã em ponto na praça de Chueca, me deu um medo de ele não aparecer. Eu sabia que isso poderia acontecer. E eu estava, acima de tudo, viajando sozinho e teria que explorar a cidade de um jeito ou de outro. Às onze e dez ele ainda não havia aparecido. Quando já decidido a ir embora, vejo que ele tinha finalmente chegado! Que bom!
Exploramos a cidade juntos, ele me apresentou a um restaurante ótimo e barato para almoço. Tivemos momentos de muita cumplicidade juntos. Eu descobri que ele fazia aniversário naquele mesmo dia - mas nada pude fazer, porque ele não comemorava aniversário...coisas de cultura familiar. Ele não se importava com isso. Mas mesmo assim resolvi levar ele para jantar no mesmo restaurante do almoço. Foi um jantar a luz de velas, com direito a brinde com espumante. Foi uma sensacional troca cultural e uma sintonia que nem eu acreditava estar vivendo, ainda mais do outro lado do oceano.
Enfim, fiquei quatro dias em Madrid. Dois deles preenchidos maravilhosamente bem por Francesco Ovoli. Nossa ligação tinha sido tão forte que eu até pensei em mudar todo o roteiro da viagem e ir para Roma, para encontrá-lo. Mas percebi que ele, o Francesco, era apenas o primeiro capítulo de uma longa história de viagem que estava por vir. Afinal de contas ainda faltavam 6 cidades - e muita coisa aconteceria. Nós trocamos contatos e nos despedimos num entardecer de 32 graus da capital espanhola. Me deu uma pequena tristeza pois tinha certeza que aquela noite não seria a mesma sem ele. Acima de tudo, ficamos grandes amigos. Sinto até hoje saudade daquele inglês cantado que só os italianos têm. Ainda mantemos contato e pretendemos nos ver brevemente, seja no Rio de Janeiro, seja em Roma ou em qualquer outro lugar do globo.
O Francesco foi um anjo que caiu do céu, doce e tímido, e que me proporcionou momentos incríveis. Ele fez de Madrid uma cidade muito mais divertida e me acolheu melhor do que qualquer madrileño! Nada melhor do que cruzar com alguém na esquina quando você menos espera e esta pessoa muda o rumo das coisas, te dá carinho, amizade e te salva da solidão.
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Finalmente você (me) contou os detalhes dessa história!
ResponderExcluirNão vai postar outros casos de viagem não?
Beijos