Decolaremos do aeroporto internacional do Galeão às 10:40 da manhã rumo a Vitória. Neste momento temos um ônibus cheio de tripulantes em Congonhas partindo para o aeroporto de Guarulhos. Alguns para fazer reserva, outros para se apresentar para voo. Outro ônibus sai de Guarulhos para Congonhas, com tripulantes que voltam para casa depois de terem voado a madrugada toda ou mesmo porque não foram acionados em suas reservas. Nesta mesma hora outro grupo de comissários se apresenta no hotel Costa do Mar, em Fortaleza, rumo a Recife. Em Recife, a tripulação que aguarda a aeronave vinda de Fortaleza espera no portão de embarque para iniciar um voo para São Paulo.
Eu e minha tripulação pousaremos em Vitória às 11:35 da manhã - momento em que uma outra tripulação sai de Belo Horizonte rumo a Brasília. Esta aeronave está atrasada, o que implicará na escala do outro grupo que a aguarda no aeroporto de Brasilia. Eles irão regulamentar e ao invés de dormirem em Salvador, irão ficar em São Paulo mesmo. No mesmo horário outros comissários dormem como pedras no hotel de Macapá, depois de terem chegado de Belém às 04:00 da manhã.
Partimos de Vitória às 12:15 rumo ao aeroporto de Guarulhos - quando na mesma hora uma tripulação decola rumo a Buenos Aires, já planejando o que irão comprar no Duty Free. Lá em Buenos Aires, a tripulação que fará o voo de volta para o Brasil está dentro da van em direção ao Aeroporto de Ezeiza.
Pousaremos em Guarulhos às 13:45, exatamente no mesmo momento que outras centenas de aeronaves estarão pousando nos aeroportos das 26 capitais. E no mesmo momento que dezenas de comissários estarão acordando felizes porque ainda estão de férias. Uns estarão nos Estados Unidos, outros na Europa e outros em casa mesmo.
Eu pegarei o ônibus para Congonhas às 14:30. Lá vou encontrar por um acaso um amigo de turma e irei conversar com ele durante todo o trajeto. Ao mesmo tempo que outros comissários de mesma turma se cruzarão em trocas de aeronaves, em pernoites em hotéis ou na rua mesmo.
Quando eu chegar em Congonhas irei correndo pegar a ponte aérea rumo ao Rio de Janeiro. Estou de folga depois de amanhã. Assim que eu descer do ônibus, uma tripulação, já com três comissários, estará dando o embarque do voo JJ3940 lá no portão 5, o mesmo portão para qual eu irei correndo de encontro a eles. E ao mesmo tempo que outra tripulação marca de sair para jantar ainda antes do check in no hotel Slavieiro, em Curitiba. Outra tripulação lamenta que o aeroporto de Londrina fechou e perderão o voo. Outros ficam felizes por terem algumas pontes aéreas canceladas porque ficarão de reserva em São Paulo, ou seja, muito mais lucrativo.
Assim que eu pousar no Aeroporto Santos Dumont, outros colegas meus estarão pousando debaixo de uma chuva torrencial em Manaus e outros estarão morrendo de calor na van com destino ao hotel de Teresina.
Vou chegar em casa umas 18:00, quando outros comissários saem de suas casas rumo ao aeroporto para se apresentarem. Uns voarão para Caracas, outros para Norte, Nordeste, Centro-Oeste ou Sul. Enquanto isso outros estão a 37 mil pés sobrevoando a floresta amazônica ou os lençóis maranhenses.
Depois de traçar minha rotina de fim de tarde em casa e ir para a night, vou dormir feliz da vida na minha cama - enquanto outras centenas de comissários dormem em centenas de quartos de hotéis espalhados por esse Brasil.
Tudo isso acontece todos os dias, todas as manhãs, tardes, noites e madrugadas. Tudo simultaneamente. Estamos em todos os horários e em todos os lugares. Somos onipresentes.
Fonte Foto: http://cly-blog.blogspot.com.br/2011/03/cotidianas-73-hoje-eu-vou-comer-sua.html